23/06/2021 às 17:25 Entrevistas

“Foi o Sid Vicious quem me inspirou a criar o Helloween e o power metal!” – Entrevista com Michael Weikath (Helloween)

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Cofundador do Helloween e um dos grandes responsáveis pela criação do power metal, Michael Weikath é um dos guitarristas mais importantes e inovadores de todos os tempos. Na entrevista abaixo, conversei com Weikath sobre suas composições no novo disco do Helloween e também sobre o desenvolvimento do power metal, novas tecnologias, histórias sobre clássicos e muito mais! BOA LEITURA!

Gustavo Maiato: O novo disco do “Helloween”, que também se chama “Helloween”, acabou de sair! Foi como um presente para os fãs no meio dessa pandemia. Como você enxerga a reação do público até agora?

Michael Weikath: As reações estão ótimas, pelo que eu vi, está melhor do que qualquer um poderia pensar! Isso é algo muito positivo, pelo menos isso deu certo. Isso só aconteceu por causa dos fãs.

Eles falam: “sim, eu quero comprar esse álbum”, “eu quero ouvir”, e comentam uns com os outros. Estamos em um grande momento, só espero que isso continue de alguma forma e não seja interrompido por nada.

Gustavo Maiato: Eu também espero que não! Bom, o Helloween é uma banda com sete integrantes agora, já que Kai Hansen e Michael Kiske voltaram ao grupo. Ou seja, são três guitarristas! Tem o Sacha Gerstner também! Quando vocês estavam compondo, como decidiam que solo vai para cada um ou que riff vai para o outro?

Michael Weikath: Normalmente é assim: se alguém aparece com um riff mais simples, a segunda guitarra costuma fazer uma terça e não costuma ser difícil. Agora, se a ideia inicial for muito difícil, você pergunta se a pessoa quer tocar a terça ou a principal.

Isso porque normalmente a primeira guitarra é mais fácil. O outro guitarrista pode falar “não me importo, posso tocar a segunda guitarra” ou “isso é muito complicado”. Nesse caso, eu mesmo toco a segunda.

No passado, eu e o Kai Hansen fazíamos dessa forma. Ele tocava a primeira linha e eu a segunda. Nos solos sempre era assim.

No caso dos riffs, pode variar. Você assume que se a pessoa escreveu o riff, ele deve tocar a guitarra principal. Tem exceções, claro, você pode falar que não está conseguindo se entender com o que escreveu e pedir para outro tocar.

Por exemplo, na “Down With The Dumps”, que compus, eu perguntei se alguém poderia tocar a segunda guitarra. Normalmente, eu toco a segunda. Ah, essa música não devemos tocar ao vivo, de qualquer forma.

Já com o Sascha, funciona diferente. Ele toca qualquer coisa que apareça! Nessa música, tem um riff simples e direto, então se eu estou tocando o acorde base, tem uma outra guitarra rítmica tocando a mesma coisa. Ele também pode tocar outra linha, para ter um impacto mais rico.

Também pode acontecer de alguém falar “ei, isso está soando péssimo com duas guitarras fazendo o acorde mais agudo e uma fazendo mais grave” ou então “toque apenas o acorde mais grave, sem a oitava”.

A sonoridade pode ficar muito agressiva, então você resolve inverter e colocar dois caras para tocar os acordes mais graves e um só no agudo.

Agora, depois que uma música é gravada, normalmente um de nós três ficamos de fora. Essa pessoa que ficou de fora, então, pode pensar “huuum, o que eu posso adicionar aqui sem atrapalhar a música?”.

Eu sei que o Sascha colocou um milhão de coisas na “Down in the Dumps”, por exemplo! Eu escuto e fico: “huuuum, muito esperto! Eu não toquei isso! Só pode ter sido ele!”.

É assim que acontece no estúdio. No caso dos ensaios, é diferente, você simplesmente vê na hora: “não quero tocar isso, você pode tocar?”, e por aí vai...

Gustavo Maiato: Falando sobre o Kai Hansen, você dividiu as guitarras do Helloween com ele lá atrás na época da fundação da banda e dos primeiros discos. Depois, ele saiu da banda. Esse retorno dele deve ter sido como uma viagem no tempo para você, certo?

Michael Weikath: Sim! A gente chegou a tocar “Future World”, “I Want Out” e “Dr Stein” juntos em algumas ocasiões depois, mas essas são músicas clássicas, já estão consolidadas com a velha magia.

Agora, a melhor coisa que poderia acontecer seria conseguir de volta essa magia desses dois idiotas! (Risos) É bem isso... o Sascha pode tocar mais limpo e melhor, com técnicas mais avançadas, e nós dois somos dois guitarristas sujos! Sempre foi dessa maneira.

Gustavo Maiato: Para mim, uma das melhores músicas do disco foi uma composição sua: “Out For The Glory”. É uma faixa longa, com uma bela melodia de voz cantada por Michael Kiske. Qual foi a inspiração para compor essa música?

Michael Weikath: A ideia era escrever outro típico clássico de heavy metal do Helloween. Tipo “Eagle Fly Free”, “The Saints” ou “Born on Judgment Day”, algo assim. Eu não queria me entediar com o resultado.

Senão depois de gravado, posso pensar “hum, eu poderia ter feito isso melhor”. Não quero ter problema com o resultado. Por isso tem várias melodias na música, não quero ficar repetindo.

Basicamente, a melodia do verso tem quinze anos! Eu assisti aquele filme do Al Gore chamado “Uma Verdade Inconveniente” e quando o filme acabou, a melodia simplesmente estava na minha cabeça... “La la la la, inconvenient truth”. Pensei: a letra dessa forma seria uma bosta, mas essa melodia é legal!

Então, mantive essa melodia por muito tempo, mas nunca estava feliz com os acordes. Cheguei a gravar uma música com essa melodia na época do “7 Sinners”, mas descartei porque não curti. Depois, tinha um arquivo... Isso eu nunca contei para ninguém! Tinha um arquivo onde gravei essa melodia, esses arquivos de voz, de música no MAC, no IOS.

Então, tive essa ideia, cantarolei e depois quando ouvi, o resultado ficou abafado, não dava para ouvir nada e não entendi nada! Aconteceu isso com essa melodia, mas lembrei depois.

Agora, com o Kiske cantando, como soaria? Soaria bem colocando um pouco mais alto? Ok, então eu fiz a demo com a melodia e depois fiz uma segunda camada de voz na música que ele também canta.

Gustavo Maiato. Outra faixa que você escreveu para o disco foi a “Robot King”. Ela fala sobre uma pessoa que acordou em um corpo de robô! Lá atrás, no “Keeper of the Seven Keys part 2”, você escreveu o clássico “Dr Stein”, que também fala sobre essa questão da humanidade criando a vida e “brincando de deus”. Podemos fazer um paralelo entre essas duas músicas?

Michael Weikath: Sim, acho que tem a mesma organização temática por trás, essa ideia de um mundo de fantasia. No caso da “Dr Stein”, tem a questão do Frankenstein e tal. A música fala sobre seus discípulos, seguidores e descendentes, ou o que seja, você não sabe o que essas pessoas são, o que estão fazendo.

Mas sabe, às vezes, estou com um péssimo humor e não consigo ter ideias novas. Tento compensar com essas histórias que tiro da cabeça! Alguém pode falar: “Ah, você já fez o ‘Dr Stein’ e agora tem essa história do robô que é parecida! No ‘My God-Given Right’ também tinha essa temática, você reciclou essas ideias daí!”.

Eu respondo: sim! Foi exatamente isso! (Risos). O Sascha também escreveu alguma coisa sobre robôs no último disco, é um assunto amplo. Agora, eu não conheço nenhum robô! Só sei que eles são avançados. A questão é: o que você coloca no sistema de um computador? Ele é tipo um bio computador? Ele pode ir para outras dimensões ou é bem simples como um tamagotchi?

Gustavo Maiato: Você gosta dessa tecnologia super moderna de hoje em dia?

Michael Weikath: Não! É fascinante, mas não acho que tudo que possa ser feito realmente deva ser feito.

Gustavo Maiato: Um dos momentos mais emocionantes do DVD “Pumpkins United” foi a versão de “A Tale That Wasn´t Right” cantada pelo Andi Deris e pelo Michael Kiske! Essa música foi você quem escreveu lá atrás. O que achou dessa versão do DVD? A música ficou ainda mais grandiosa!

Michael Weikath: Foi maravilhoso, mas se você perguntar qual achei mais legal foi a “How Many Tears”, a melodia simplesmente surge e eu adoro. Agora, se você perguntar sobre o solo, tanto o do “A Tale...” quanto da “How Many...” são muito divertidos.

Tudo se resume a curtir essa conexão entre a multidão. Todos de muito bom humor, ou chorando... Você curtindo com os caras da banda, tudo está indo bem do lado técnico, todos estão saudáveis e se sentindo bem. Assim você pode curtir!

Gustavo Maiato: Você fundou o Helloween e está na banda desde sempre, nunca saiu e não teve muitos projetos paralelos. Também não fez muitas participações em músicas de outros artistas. Você acha que o Helloween preenche todas suas ambições musicais ou quem sabe você gostaria de fazer uma banda paralela para tocar outro gênero?

Michael Weikath: O único problema é que o Helloween já toma a maior parte do meu tempo! A outra coisa é que aparecer em outro projeto consome sua energia que poderia ser empregada em um próximo disco do Helloween.

Se você arriscar, pode se surpreender negativamente depois. Você pode constatar que suas músicas estão boas, mas você não trabalhou de maneira apropriada, não estão finalizadas.

Aí alguém pode falar que suas músicas não estão 100% porque você esteve fazendo projetos paralelos ou carreira solo! Ah não, não quero que me acusem disso! Você sabe, estou muito ocupado com o Helloween, dou muitas entrevistas e tudo mais...

Gustavo Maiato: No começo do Helloween, você e o Kai Hansen foram fundamentais no estabelecimento do que ficou conhecido como power metal. Quando vocês estavam compondo o “Walls of Jericho”, vocês já tinham ideia do monstro que estavam criando? (Risos) Já percebiam que o tipo de música que vocês estavam fazendo era tão diferente que daria origem a um novo subgênero?

Michael Weikath: Nós esperávamos que sim! Por outro lado, preciso falar que o baixista do Sex Pistols, o Sid Vicious, influenciou nesse processo. Nos anos setenta, ele gravou um cover da música “My Way” (Frank Sinatra, Claude François) e era uma versão muito melódica, com guitarras distorcidas e tudo mais. Então eu olhei aquilo e falei “quero fazer algo assim na minha banda”.

Eu queria muitas melodias e muita guitarra distorcida, e tocar um pouco mais rápido... Estávamos pensando nisso. Tinha o Scorpions e o Wishbone Ash também nessa linha. O Wishbone eu não conhecia muito bem na época, mas eles faziam algo parecido.

Temos muitas coisas em comum com várias bandas que estavam fazendo sucesso naquela época, mas foi ótimo, todo mundo passou a chamar nossa música de power metal!

Gustavo Maiato: Como você vê esse estilo musical nos dias de hoje?

Michael Weikath: Acho ótimo que estejam tocando esse tipo de música até hoje! Não é uma questão de competição nem nada, você pode tocar suas coisas e as pessoas ficarão felizes por isso.

As melodias são muito importantes, hoje em dia você pode fazer várias coisas. Você pode ter música eletrônica em uma rave, que só tem melodias às vezes. Tem um debate se a qualidade é boa ou não ou se é apenas uma melodia estúpida.

De qualquer maneira, é uma melodia. Em algum dia, você terá uma música que fica só Bfffffffrttt bbbbbfttt e todo mundo vai ficar dançando de maneira estranha. Pode ser que você nem dance, só fique balançando. Ou então só fique parado mesmo e a música continua lá bbbbbbbfrrrr bfffffrr, eu não sei!

Só sei que nós ainda estamos fazendo power metal e as bandas mais jovens também. Acho que isso é muito bom!

Gustavo Maiato: Você e o Andi Deris foram convidados de luxo do “Ritualive”, o incrível DVD do Shaman, do saudoso vocalista Andre Matos. Como era sua relação com o Andre Matos?

Michael Weikath: Nós tivemos um mal entendido por muito tempo, porque falaram abobrinha para ele sobre mim. Então, tinha essa história entre nossas duas bandas. Ele falava “ouça a gente, somos melhores do que o Helloween, eles são caras escrotos e arrogantes”.

Então, nos encontramos em Londres à negócios e finalmente nos falamos. Ele falou que as informações que passaram para ele sobre mim não eram verdadeiras! Ele se desculpou por todas as coisas ruins que ele disse.

Desde então, sempre tivemos bons momentos. Trocávamos mensagens de texto, porque não tinha mídia social nem nada! Ele estava sempre muito ocupado, mas às vezes nos falávamos. Ele tinha vários projetos e eu tinha minhas coisas. O que podemos fazer? Às vezes, falamos mais, outras falamos menos.

23 Jun 2021

“Foi o Sid Vicious quem me inspirou a criar o Helloween e o power metal!” – Entrevista com Michael Weikath (Helloween)

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