Enquanto o EPICA se prepara para lançar o oitavo disco da carreira – que ganhou o nome de “OMEGA” e sai no dia 26 de fevereiro pela NUCLEAR BLAST – bati um papo exclusivo com MARK JANSEN, guitarrista e um dos principais compositores da banda.
Ao longo da conversa, falamos sobre alguns dos principais temas que vão estar presentes nesse novo trabalho, como ciência, espiritualidade, ego e a possibilidade de fazer escolhas. Como não poderia deixar de ser, entramos também em temas polêmicos como a sua visão sobre as vacinas para covid-19 e a pandemia do novo coronavírus. Então, sem mais delongas, boa leitura!
Gustavo Maiato: Minha primeira pergunta é sobre o novo disco “Omega”. Muitas músicas ao longo da discografia do Epica falam sobre espiritualidade e ciência. Como esses grandes temas estão presentes nesse novo álbum? Que tipo de debate vocês pretendem fazer?
Mark Jansen: Se a gente analisar a história da banda, uma música que traz esses assuntos de maneira muito forte é a “Kingdom Of Heaven”, lançada no álbum “Design Your Universe”. Ciência e religião parecem temas opostos, mas um pode fortalecer o outro e ajudar a humanidade a dar um passo para frente.
Existem coisas relacionadas à nossa espiritualidade que a ciência poderia investigar mais. Esse é o tema da música “Kingdom of Heaven”, que ganhou sua terceira parte no “Omega”. Outro assunto que eu gosto de abordar são as experiências de quase-morte. Sou fascinado por isso! O que as pessoas sentem quando os médicos dizem que elas não vão ter muito tempo de vida? Muitos têm experiências profundas. Esse assunto não é muito bem aceito. Agora, as pessoas estão mais abertas para aceitar esses temas de vida e morte.
Gustavo Maiato: Como surgiu a ideia de compor uma terceira parte para a saga “Kingdom of Heaven”? Essa música também está inserida no contexto da série “A New Age Dawns”, que fala sobre a cultura Maia?
Mark Jansen: É como se fosse um outro braço. Temos a saga “A New Age Dawns”. Uma das músicas dessa saga é a “Kingdom Of Heaven”. Então, temos uma ramificação com as partes dois e três da música. É um grande círculo! A ideia de compor uma terceira parte apareceu quando eu e o Isaac (Delahaye, guitarrista) estávamos trabalhando em uma música e ela acabou ficando muito grande.
Em certo ponto, pensamos que poderia ser uma ótima continuação para a saga “Kingdom Of Heaven”. Sei que as pessoas têm altas expectativas quando ouvem esse nome, muitos fãs consideram essa música a melhor da banda. Então nessa terceira parte nós precisávamos entregar algo grandioso, não podemos desapontar! Espero que todos gostem!
Gustavo Maiato: Falando sobre outra música do disco, a “Seal Of Solomon”, ela faz referência a um símbolo usado na magia negra e na alquimia. Qual a mensagem que o Epica quis passar com essa música?
Mark Jansen: Essa música na verdade fala sobre o ego, como podemos aprender a domar o nosso próprio ego. Muitas pessoas associam o ego a coisas negativas. Mas o ego é como se fosse uma substância que te ajuda a viver nesse mundo. Assim como as pernas te ajudam a andar e as mãos te ajudam a carregar coisas, o ego é muito útil, porque ele faz com que você analise todas as situações e experiências que você viveu em sua vida e aprenda como agir quando essas experiências acontecerem novamente.
Às vezes, o ego fica muito grande e acaba se fazendo presente a todo momento, mesmo quando você não precisa dele. Toda hora ditando como você deve agir. Aí o ego acaba ficando demais. Quando você consegue equilibrar e usar o ego apenas quando ele é útil para você, se livrando dele quando não precisar, aí sim você dá um passo para sair desse mundo de ilusões. Eu adoro escrever sobre esse assunto, me dá muita inspiração!
Gustavo Maiato: A música “Freedom – The Wolves Within” fala sobre fazer escolhas. Em uma sociedade repleta de fake news com tanta desinformação como a de hoje, será que é possível fazermos as melhores escolhas? Será que temos condições de escolher o que é melhor para a gente?
Mark Jansen: São tempos difíceis, mas também desafiadores. Somos desafiados a todo momento. Como você disse, estamos rodeados de fake news. É difícil para uma pessoa saber em quem pode confiar ou não. Tem muita informação disponível. Por isso, é importante sempre confiar na sua intuição. Se você tem dúvida sobre algo e não consegue descobrir a verdade, o seu eu mais profundo vai te guiar e te dizer aonde ir.
Se você aprender a ouvir o seu guia interior, você encontrará sempre o melhor caminho. Mas não são tempos fáceis, é tudo muito caótico. Sempre que um ciclo se encerra e uma nova era surge, entramos em um período de caos, isso claramente está acontecendo agora. Estamos entrando em uma nova era com inteligência artificial. Os robôs estão se desenvolvendo muito rápido. Acho que estamos entrando em uma nova era onde o trabalho será redescoberto também. Muitas coisas serão feitas por robôs no futuro. As pessoas precisarão encontrar novos empregos para sobreviver.
Os próximos dez anos serão bem interessantes nesse sentido. Depois as coisas vão se estabilizar e nos encontraremos em um mundo diferente. Mas não necessariamente melhor ou pior. Todas as opções estão na mesa. O caos de agora nos dá a oportunidade de pelo menos encontrar um caminho para um mundo melhor. Sou sempre muito otimista.
Gustavo Maiato: Você postou no seu Instagram uma foto de uma espécie de banheira que você construiu para tomar banhos com gelo. Você disse que essa prática fortalece o sistema imunológico. É uma defesa contra vírus e coisas que podem atacar seu corpo. Como essas práticas alternativas de medicina apareceram na sua vida? Você tem alguma crítica contra a medicina moderna?
Mark Jansen: Eu sou formado em psicologia, então sei bastante sobre como a mente trabalha. Corpo e mente estão conectados. Se você tem um problema no seu corpo, sua mente pode ser afetada. Se você tem um problema na mente, seu corpo pode sofrer. Dito isso, eu percebi que pelo menos duas vezes ao ano eu pegava uma forte gripe. Isso era um saco, as pessoas me diziam que eu podia tomar a vacina contra a influenza. Mas eu não tinha um bom pressentimento sobre isso.
Procurei métodos alternativos de me livrar da gripe. Acabei encontrando esse método. Faço exercícios de respiração e me exponho a condições extremas, ao frio extremo. Comecei a fazer isso quase três anos atrás e nunca mais peguei gripe.
Tive uma intoxicação alimentar uma vez, mas a gripe nunca mais me pegou. Para mim, isso se mostrou uma ferramenta ótima. De uma maneira natural eu consegui lutar contra o vírus da influenza. Não fiquei doente novamente. Não sei se funciona contra a covid-19, espero que sim! Mas não sei. Eu vou descobrir quando eu pegar. Acho que cedo ou tarde todos vão acabar pegando...
Gustavo Maiato: O que você acha sobre essas vacinas contra a covid que estão sendo desenvolvidas? Você acredita nelas e tomaria?
Mark Jansen: Acredito que as vacinas podem ajudar muitas pessoas. Tenho esperança de que ela vai funcionar. Muitas pessoas dependem dessas vacinas, especialmente os mais velhos ou pessoas que têm comorbidades. Para essas pessoas, seria ótimo se a vacina realmente funcionar.
Mas para mim, eu realmente não sei ainda o que fazer. Minha intuição diz que eu não teria nenhum problema com a covid, mas se é verdade que todo mundo precisa tomar a vacina, se essa for a única maneira de resolver esse problema, eu não quero ser um dos únicos que vai jogar contra e acabar alimentando o vírus.
É uma pergunta delicada essa. Realmente não sei o que fazer. Eu gasto muito do meu tempo nesse processo de fazer minha imunidade ficar forte e meu corpo ficar fortalecido. Então, penso que se eu tomar a vacina, será como se tudo isso que eu fiz tivesse sido em vão. É uma escolha difícil que eu precisarei tomar. Eu nunca tomaria por mim, mas se eu for tomar, eu faria isso pelas outras pessoas.
Gustavo Maiato: O Epica vem se tornando cada vez maior. Shows lotados, excelentes discos lançados... Já dá para falar que vocês são a maior banda de metal sinfônico da atualidade?
Mark Jansen: Eu nunca diria uma coisa dessas! Deixo isso para as pessoas decidirem. Existem outras bandas do estilo excelentes por aí como o Nightwish e o Evanescence. Somos uma das grandes.
Alguns gostam mais de uma, outros preferem outras. O que podemos fazer é fazer nosso melhor, escrever excelentes discos e fazer as pessoas felizes. Se as pessoas disserem que nós somos os melhores, eu ficarei feliz em ouvir isso! Tenho muito respeito por todas as bandas. O Nightwish, por exemplo, eu adoro. Amei o último disco deles.
Gustavo Maiato: Falando sobre o Nightwish, recentemente o baixista Marko Hietala deixou a banda e a vida pública. Um dos motivos alegados para essa tomada de decisão foi o abuso por parte de empresas de streaming que acabam ficando com a maior fatia de dinheiro no business da música. O que você achou da decisão dele? Você concorda com as críticas que ele fez?
Mark Jansen: Ele disse que o negócio da música é repleto de cobras. As empresas pegam todo o dinheiro e os músicos ficam de fora. Isso é verdade. Empresas como o Spotify ganham muito dinheiro e acho que os artistas ganham menos do que deveriam.
As coisas são como são, não tenho como influenciar isso. Se um cara do Spotify vem me cobrar para eu trabalhar mais, eu não vou escutar. Cada um precisa fazer o seu. Por outro lado, não estou tão desiludido pelo mundo da música como ele está. Reconheço os problemas que ele fala, mas vejo ainda muitas possibilidades nesse negócio.
Todas as novidades trazem vantagens e desvantagens. No passado, quando os CDs estavam vendendo bem, era mais fácil viver de música. Agora, temos outro mundo. Vencemos algumas batalhas, perdemos outras.
Hoje em dia, alguns músicos estão sofrendo com a covid. Infelizmente, acho que outros músicos também devem deixar suas bandas. Não sou um cara de desistir. Vamos procurar sempre novas maneiras de manter a coisa funcionando.
Gustavo Maiato: Obrigado pela entrevista! Vocês já têm planos para turnês? Por favor, deixe uma mensagem para seus fãs brasileiros!
Mark Jansen: Temos que ver como as coisas vão se desenrolar. Quando será possível entrar em turnê novamente. Estamos vendo algumas opções mais para frente, incluindo o Brasil. Mas temos que esperar ainda. Já estamos prontos para uma possível turnê, assim que for possível.
Quero agradecer o apoio dos nossos fãs brasileiros todos esses anos. Acima de tudo, desejo para todos uma boa saúde, para todas as suas famílias e amigos. Sei que o Brasil está passando por momentos difíceis. Eu vejo nos jornais que alguns lugares estão com falta de oxigênio.
Se você conhece alguém que está passando por um momento difícil, tente estar lá para essa pessoa. Apoiem uns aos outros. Tenho amigos que estão sofrendo com covid e sempre tento ajudar essas pessoas. Mais cedo ou mais tarde vamos deixar tudo isso para trás e vamos ser felizes novamente.
Entrevista completa no meu canal no YouTube: