Desde 1990, Esa Holopainen é o guitarrista da banda finlandesa Amorphis. Ainda que seu trabalho com os expoentes do “doom progressivo” seja notável, faltava em seu currículo uma carreira solo para chamar de sua.
“Silver Lake”, nesse sentido, marca uma virada na trajetória do músico. A estreia com as rédeas do próprio disco veio com a colaboração de luxo de ninguém menos do que Anneke van Giersbergen (VUUR), Björn "Speed" Strid (Soilwork), Einar Solberg (Leprous), Jonas Renkse (Katatonia), entre outros.
Como não só de bons jogadores individuais se faz um time campeão, ficava no ar a expectativa: será que esse “avantasia do doom” daria certo? Ao final das 9 faixas, a reposta é um sonoro “sim”.

O sucesso de “Silver Lake” se dá muito pela sensibilidade de Holopainen em escolher a dedo seus convidados para o importante posto de vocal, além da dosagem perfeita entre as atmosferas das canções.
Algumas, como a faixa-título e a balada “Storm”, estilo Amorphis, puxam para o folk, com o timbre mais limpo de Holopainen convidando para uma introspecção profunda. Já “Ray of Light”, uma das mais surpreendentes, conta com o vocal de Einar Solberg, do Leprous, emprestando seus agudos enérgicos no refrão.
Notadamente, essa variação entre as músicas (ainda que tenham a mesma espinha dorsal) faz do disco uma surpresa em cada track. Uma das participações mais inusitadas, entretanto, veio de alguém inesperado: o ator finlandês Vesa-Matti Loiri, que concedeu seu vozeirão grave e declamado estilo Zé Ramalho na faixa “Alkusointu”.
Outra candidata forte a melhor do álbum é a pesada “In Her Solitude”, interpretada pelo seu companheiro de Amorphis, o cantor Tomi Joutsen. Essa música é uma espécie de fusão entre o Opeth antigo e o novo, com riffs pesados aliados com um string retrô.
No final, “Fading Moon” vem com Anneke mostrando a beleza que uma voz feminina pode adicionar em um disco (assim como Sharon fez no Avantasia!) e “Apprentice” encerra com ninguém menos que Jonas Renske, do Katatonia, mostrando porque é um dos expoentes do doom.
Esa Holopainen demorou, mas finalmente lançou seu disco solo. A sensação é que ele aguardou o momento certo, para não “lançar por lançar”. É nítida a inspiração latente que pulsa nas faixas. Carreiras solos não devem acontecer apenas por simples “sobras de estúdio” ou vaidade. “Silver Lake”, por fim, acertou nos convidados, na dinâmica entre as faixas, e principalmente na qualidade das composições, que funcionam como time campeão.
