23/05/2023 às 13:39 Entrevistas

Entrevista com Paulo Ricardo (Ex-RPM)

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Paulo Ricardo está iniciando a turnê “Rock Popular”, que mescla hits do RPM e de sua carreira solo com clássicos do rock nacional – desde Cazuza e Legião Urbana até Rita Lee e Raul Seixas. Conversei com ele sobre essa turnê e também a respeito de histórias de sua longa trajetória. Boa leitura!

Obrigado pela entrevista! Paulo, essa nova turnê “Rock Popular” mistura clássicos do RPM, de sua carreira solo e do rock brasileiro de forma geral. Podemos dizer que essa turnê procura resgatar a época em que o rock era mais popular no Brasil? Por que em sua opinião o estilo não se conecta tanto com a juventude como nos anos 1980?

O conceito da turnê ‘Rock Popular’ é trazer o que de mais popular tivemos na história do nosso rock. Tivemos uma grande explosão nos anos 1980 e muitas coisas surgiram. Muitas canções ficaram eternizadas. Porém, o show não explora só esse período. Por exemplo, Rita Lee e Raul Seixas eu pego repertório dos anos 1970. É uma longa história e a essência do espetáculo é essa: mostrar a força do nosso rock. Agora, acho que a juventude vai passando e recebendo esse bastão da música em geral, não só do rock. Sobretudo através da educação musical que a pessoa recebe em casa. O rock vai se colocando ao lado dos clássicos, como o blues e jazz. O rock não vai morrer. Como todo estilo, tem um momento da história em que ele foi hegemônico e teve seu apogeu. Mas ele se coloca muito bem em qualquer época. Passa de geração para geração. Acontece que cada geração quer ter seu som e sua identidade. Não necessariamente curtir apenas o que seus pais curtiam. Acho legítimo, mas a boa música na verdade não tem idade. Ela envelhece bem. Sinto falta de bandas novas, mas isso é um movimento pendular. Daqui a pouco vai aparecer outras. Tenho certeza. O rock está vivendo um grande momento, comemorando 40 anos de rock no Brasil. Vão surgir outras para segurar o bastão.

No repertório temos versão de música da Rita Lee, que nos deixou recentemente. Qual a importância da Rita na sua trajetória? Poderia lembrar alguma história divertida envolvendo vocês dois?

A Rita Lee não gostava muito de ser chamada de ‘Rainha do Rock’. Ela é muito mais do que isso. Ela é o próprio rock. Ela é Beatles, Stones e David Bowie. Ela encarnou o rock como ninguém no Brasil. Tenho umas histórias maravilhosas com ela. Uma vez, quando a convidei para participar da canção ‘A Fina Poeira do Ar’. Foi um convite do cineasta Sérgio Rezende, para que eu fizesse a música tema do novo filme dele ‘Doida Demais’, em 1989, com a Vera Fischer e o Paulo Betti. Eu convidei a Rita para cantar comigo e acabou que a canção ficou eternizada no meu primeiro álbum solo, ‘Paulo Ricardo’, de 1989. Também tive o privilégio de participar de uma homenagem incrível que o Serginho Groisman fez no Altas Horas. Escolhi a canção ‘Mamãe Natureza’. Pretendo também participar de uma grande turnê que o Beto Lee está fazendo recebendo convidados para cantar os clássicos eternos da nossa padroeira da liberdade, Rita Lee Jones.

O RPM e os Titãs têm uma relação histórica e até “compartilharam” o mesmo baterista, Charles Gavin. Como você enxerga esse retorno da formação clássica dos Titãs? Qual a importância que eles tiveram na sua carreira?

O Titãs sempre foram uma das maiores bandas. Eles conseguiram grande sucesso em carreira solo todos eles. Isso é muito, muito raro. Mesmo no mundo você não tem um caso como os dos Titãs, em que muitos integrantes talentosíssimos fizeram o que fizeram enquanto banda e que seguiram carreira solo muito bem sucedidas. Esse encontro, como eles estão chamando, é fundamental para esse momento de retomada do rock nacional. Temos essa história curiosa também do Charles Gavin ter saído do Ira! para entrar no RPM e depois saiu do RPM para entrar nos Titãs, que já estavam estourando com ‘Sonífera Ilha’. Eles estouraram um pouco antes da gente. No final, somos todos grandes amigos e fico muito feliz com esse momento deles. O Arnaldo Antunes tem os Tribalistas, o Nando Reis com carreira solo. E eles juntos são uma potência, sempre foram e sempre serão.

Você surgiu nos anos 1980 junto com bandas como Legião Urbana e Barão Vermelho. Na década seguinte, veio outra safra do rock nacional com bandas como Raimundos e Skank. Como você viu essa “nova onda” naquela época? Quais diferenças entre os anos 1980 e 1990? Alguma dessas bandas dos anos 1990 te impactou de alguma forma?

Eu acho os anos 1990 tão potentes quanto os anos 1980. Coisas como Planet Hemp comprovam a força e longevidade do rock. Eles estão voltando aí. O Skank eu estive na turnê de despedida. Foi uma coisa emocionante que mostra a enorme competência e talento deles. O Jota Quest está fazendo sua turnê de 25 anos com enorme sucesso. Acho que os anos 1990 são praticamente irmãos dos 1980. Até porque temos pouca diferença de idade. Acho que podemos trazer um grande parêntese e incluir os 80 e 90 basicamente como o mesmo movimento.

Você foi bem próximo do Cazuza e Renato Russo, duas figuras importantes que infelizmente nos deixaram muito cedo. Como você acha que eles se comportariam nesse mundo tecnológico e de rápido acesso ao fã de hoje? Acha que eles seriam “influencers” e usariam muito o Instagram por exemplo?

Realmente foi um privilégio conviver com o Cazuza e com o Renato Russo. Às vezes, penso nisso. O que eles estariam fazendo hoje? Não duvido nada que eles estivessem escrevendo. Eles eram muito ligados a escrita. Assim como o Chico Buarque, eles teriam já escrito peças de teatro, musicais e roteiros de cinema. Ou até livro. Provavelmente estariam escrevendo muito. O Cazuza como sempre foi muito inquieto e antenado provavelmente já teria feito um trabalho ligado ao hip-hop, com DJ e tal. Eles eram geniais e o talento deles não tinha fronteiras. Por qualquer veículo que decidissem se expressar iam dar um show.

Sabemos que o RPM e você passaram por diversas idas e vindas ao longo dos anos e hoje em dia cada um segue seu próprio caminho. Poderia nos dizer qual é o sentimento que vem na cabeça quando você se lembra de cada um dos integrantes da formação clássica? Ou seja: Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e Paulo Pagni?

As lembranças que tenho do RPM são as melhores possíveis. Uma banda que chegou a um patamar nunca antes sonhado. Pudemos subir aos poucos desde os porões das casas noturnas do underground paulistano até os teatros. Tivemos o privilégio de ter o Ney Matogrosso dirigindo nosso show do ‘Rádio Pirata’. Vimos a turnê crescer, se transformar em álbum ao vivo e bater todos os recordes. Tivemos o retorno da banda nos anos 2000 com a MTV, que foi incrível. Esses cinco anos de 1984 a 1989 foram homenageados por mim recentemente na turnê ‘Radio Pirata Ao Vivo 35 Anos’. Eu reproduzi fielmente aquele espetáculo que foi dirigido pelo Ney Matogrosso. É uma turnê que sempre vai estar na minha vida. Sempre me lembrarei com muito carinho

23 Mai 2023

Entrevista com Paulo Ricardo (Ex-RPM)

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