14/04/2023 às 20:38 Entrevistas

Entrevista com Diva Satânica (How We End, ex-Nervosa)

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7min de leitura

Diva Satânica é uma das grandes referências atuais quando o assunto é vocal feminino cantando gutural. Conversei com ela sobre a nova banda How We End e também sobre sua passagem pela Nervosa. Boa leitura!


O que você pode dizer sobre a sonoridade do How We End?

Isso é interessante porque viemos de lugares muito diferentes musicalmente falando. É como uma mistura de todas essas vibes nossas. A Jen Majura todos conhecem. Ela gosta de sonoridades mais sombrias. Eu venho do death metal e o Tom Naumannn, guitarrista, curte metal mais clássico. Já o Jake E, o outro vocalista, foi fundador do Amaranth e tem essa pegada pop. É uma grande mistura e acho que tudo isso dá o resultado do How We End.

Já dá para saber o tema das letras?

Sobre as letras, a primeira eu escrevi uma primeira versão. Foi a música ‘My Fighting Heart’. Depois, o Jake se uniu e acabou mudando muita coisa. Ficou muito mais legal! [risos]. Ele tem essa habilidade para escrever músicas, gosto muito de tudo que ele se envolveu. Não sabemos se vamos lançar um novo álbum ou lançar músicas uma por uma. Acho que temos prontas já umas dez músicas já finalizadas e gravadas. O mercado muda muito e a indústria musical é louca hoje em dia. Temos que ver direitinho como divulgar o projeto. O que pode interessar mais? As plataformas ficam com muita grana e é complicado saber se podemos arriscar.

Então a “My Fighting Heart” começou de uma ideia sua?

Essa música foi composta no meio da pandemia. Foi como tudo começou para mim. O Tom Naumann ligou para mim dizendo que estava com um projeto com o baixista. Eles queriam compor algo nesse período da quarentena. Me perguntou se eu queria cantar e disse que sim! Então, escrevi essa música sobre não se render e continuar. Era uma época complicada de ficar em casa e não sabíamos sobre o futuro. Acho que o Jake capturou bem essa vibe e escreveu em cima. A música fala sobre ter um dia horrível, mas ter a habilidade de poder converter isso em algo positivo, para que continuemos lutando.

Como surgiu o nome “How We End”?

Sabe que não sei bem? [risos]. Começamos a pensar vários nomes. Sou horrível para isso! Nunca sei qual escolher. É um mundo cheio de possibilidades. Lembro que o Tom Naumann queria brincar com essa coisa de ‘How It Ends’ ou ‘How Will End’. Algo assim. Havia nomes que pensamos, mas já estavam sendo usados quando começamos a pesquisar. Então, o Jake viu que ‘How We End’ ninguém estava usando e podíamos usar. Então, escolhemos!

Como é a relação do Jake E com o Amaranth agora?

Não faço muita ideia porque só nos conhecemos pessoalmente no dia que filmamos o videoclipe. Ninguém queria falar muito sobre os momentos difíceis da carreira. Agora, obviamente quando uma pessoa deixa de trabalhar em uma banda, as coisas se esfriam e a relação se perde. Acho que ele não tem muita relação com a galera do Amaranth. Ele está muito ligado ao How We End porque é o principal compositor. Ele trabalha bastante, mas não sei se ele tem contato.

A Jen Majura saiu não muito bem lá do Evanescence, né...

Sim, acho que ela não tem relação nenhuma mais com eles. Foi algo complicado o que rolou. Ela não sabe os motivos que levaram ela a ficar fora da banda. Imagina!

Qual sua relação com o Arch Enemy? Essa banda certamente influenciou muita cantora no gutural!

Sim, influenciou muito. Meu nome artístico veio de uma música de mesmo nome deles, do início da carreira. Acho que foi a primeira banda que vi com uma mulher cantando metal extremo ao vivo. A Angela Gossow foi uma das primeiras que vi ao vivo e me influenciou muito. Não é a mesma coisa ouvir um álbum e ver ao vivo. Poder assistir a performance é outra coisa. Nunca tinha visto nada igual. Foi um dos motivos de eu querer estar numa banda.

Você gosta da nova fase com a Alissa White-Gluz?

Tenho que confessar que no início não gostava muito. Eu gostava mais do The Agonist, a banda anterior da Alissa. Acho que o ‘Lullabies For a Dormant Mind’ é um dos meus álbuns favoritos da vida. Agora, esse último álbum do Arch Enemy chamado ‘Deceivers’ meio que recuperou a essência da banda. Gosto muito desse álbum, ele é muito bacana. Acho que ao vivo ele estimula as pessoas a cantar junto também. Isso é muito legal de ver.

Como é o cenário do heavy metal na Espanha?

Em geral, a cena não é muito grande. As músicas mais mainstream são pop, reggaeton e ritmos latinos. Dentro do metal, a sonoridade mais clássica é a mais popular. Agora, tem muita banda legal sim que trabalha na Espanha. A dificuldade é sair e tocar na Europa. Os europeus do Sul têm fama de gente que gosta de uma festinha e se divertir. É como se os profissionais da indústria não estivessem muito certos de querer trabalhar com as pessoas da Grécia, Itália, Portugal e Espanha. Mas isso está mudando. Não é um problema de seriedade e compromisso. Qualquer pessoa pode aprender a tocar um instrumento. O difícil é conseguir conciliar se você tiver um trabalho regular. Essa insegurança de não saber se tem dinheiro complica um pouco. Para ter sucesso na indústria musical é preciso arriscar muito na vida pessoal.

Como você compara o Brasil e a Espanha?

Acho que essa alegria de viver nós compartilhamos! Só que no Brasil é melhor porque vocês estão sempre com um sorriso no rosto. Na Espanha, depende do dia e da cidade. No Norte, tem pessoas mais mal humoradas e isso acontece comigo muitas vezes! [risos]. Diria que vocês têm um amor pela vida e por se divertir. Vocês ficam em paz e têm o espírito de que tudo vai dar certo. Nesse sentido, acho que a Espanha e o Brasil são semelhantes.

A vida na Espanha é boa? Quais são os desafios políticos e sociais?

Não mudou muito desde o século 15! [risos]. Tem muita picaretagem na política por aqui. Os políticos ficam com muito dinheiro das pessoas. Tem muita corrupção e as pessoas sabem que acontece. Mas ninguém faz nada para melhorar isso. É uma hipocrisia, porque ninguém quer ter inimigos. Eles sabem que as coisas podem funcionar melhor. Se você quer se envolver em política é difícil. No começo, pode ter esperança de mudar as coisas. Só que depois isso acaba. É frustrante para quem se importa. Só com uma pandemia ou catástrofe para as pessoas entenderem.

Como são os movimentos separatistas na Espanha?

Esses movimentos existem e não existem ao mesmo tempo. A Catalunha aparece toda hora no noticiário por isso. Somos um país pequeno, mas temos muitas regiões diferentes. Cada uma tem um idioma e cultura particular. É diferente um lugar do outro. Por exemplo, o País Basco tem um idioma próprio sem raiz latina. É algo totalmente diferente e ninguém sabe de onde veio. Nos anos 1980, eles começaram um movimento político separatista, mas já abandonaram isso. Eles fizeram um partido político e começaram atos terroristas. Pessoas foram assassinadas por esses ideais. Foi algo muito complicado. Hoje em dia, não queremos mais passar por essas experiências. Esses movimentos não são tão fortes. Tem um setor político que se interessa nisso porque acha que vai fomentar a economia, mas a maioria da população não quer isso.

Quais lições você tirou da sua passagem pela Nervosa?

Tive que enfrentar muitos desafios. Minha vida mudou muito. Conheci pessoas muito legais e pude conhecer como funciona melhor a indústria. Mas acontece que a convivência começou a ser muito grande. Ficamos cinco meses em turnê e sempre tinha alguma novidade. Ficamos depois dois meses na América Latina. Aí você conhece as pessoas. Tenho trabalhado com muitos projetos sem conhecer ninguém, mas você sabe que sempre tem o líder que toma as decisões e você é o empregado. Isso está ok, mas às vezes você tem outras ideias e é complicado quando não há boa comunicação. O planejamento sobre o futuro já vem com todas as decisões tomadas e você não sabia nada. Isso para mim foi complicado. Muitas bandas mudam a formação e não é o fim do mundo. Novas oportunidades começam para ambos os lados.

Qual música você mais gostou do “Perpetual Chaos”?

Tem muitas músicas legais! Adorei esse álbum. A ‘Until the Very End’ é uma que fala sobre suicídio. Como eu trabalhei muitos anos como enfermeira psiquiátrica, para mim isso foi um tema muito importante. Principalmente no meio da pandemia. A ‘Under Ruins’ foi um grande hit! Gostei muito do peso dela. Funcionou muito bem. Gravamos uma bonus track chamada ‘Exija’ para o Brasil e sofri muito para gravar! [risos]. Eu nunca tinha cantado uma música em português e a pronúncia é muito diferente. Não sou muito boa nisso. Cantar português em gutural é algo inusitado! A Prika sofreu comigo, mas me ajudou muito e adorei o resultado.

Qual sua análise da Prika como nova vocalista da Nervosa?

Quando estávamos em turnê na América Latina nós já sabíamos que eu ia sair da Nervosa. Então, ela me falou que gostaria de tentar aprender a cantar. Ela já cantou em outros projetos anos atrás. Ela sabia cantar, mas ficava preocupada porque turnês envolvem muitos shows seguidos. Você não come nem dorme bem e isso pode afetar muito a voz. Ela me pediu algumas dicas para tentar melhorar nesse sentido. Acho que deu certo.

14 Abr 2023

Entrevista com Diva Satânica (How We End, ex-Nervosa)

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