12/04/2023 às 19:41 Entrevistas

Entrevista com Jyrki 69 (The 69 Eyes)

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7min de leitura

Jyrki 69 é vocalista da banda gótica finlandesa The 69 Eyes, que está lançando o novo disco “Death of Darkness”. Conversei com ele sobre o lançamento e também sobre clássicos dos “Vampiros de Helsinque”. Boa leitura!

Existe um tema por trás das letras do novo álbum ou elas funcionam de maneira independente?

Elas funcionam de maneira independente. Não há um tema por trás. Por outro lado, elas foram feitas todas por mim. Todas as músicas que fiz, mesmo clássicos como ‘Lost Boys’ e ‘Brandon Lee’, falam sobre minha vida naquele momento. Compus essas novas músicas não de uma vez só e sim uma por uma. Basicamente, já pensei no título do álbum – ‘Death of Darkness’ – logo de cara. Achei que seria um nome perfeito. Depois, percebi que em uma canção que eu estava fazendo e poderia cantar esse título e daria um bom refrão. Assim surgiu a faixa-título. São canções clássicas do The 69 Eyes. Algumas músicas falam sobre filmes, como ‘Call Me Snake’. Inspiradas em Nova York e Los Angeles. É uma receita típica nossa! Juntei alguns pensamentos meus com rock clássico, não tem um tema particular. Agora, seria errado dizer que o título nada tem a ver com o que vem acontecendo nos últimos três anos. O mundo está muito instável. Estranhamente, nos acostumamos a isso. Sabemos que tudo pode mudar sempre. Acho que o The 69 Eyes tem feito músicas atemporais, mas as músicas falam sobre o que acontece agora. Alguns são histórias particulares, como ‘Drive’. Eu não tenho carteira de motorista, então sempre sou guiado por mulheres bonitas em carros esportivos no mundo todo. É uma experiência que vem de Los Angeles. Todos podem se identificar também.

Temos a música ‘California’ no setlist e vocês são conhecidos como ‘Vampiros de Helsinque’. Qual a ligação de vocês com os EUA? Vocês gravaram o disco na Finlândia e nos EUA, certo?

Sim! Um ano atrás, levei um monte de demos lá para Los Angeles. Quis ver se aquele lugar me traria inspiração como sempre fez. O The 69 Eyes sempre flertou com a mística de Hollywood desde que começamos a tocar lá. Metade do estado mental da nossa banda é de Hollywood! Então, fui para lá com as demos. Eu continuei compondo o álbum lá. Ficava ouvindo as demos na piscina do meu hotel. A música ‘California’ foi uma das primeiras que escrevi para o novo álbum e foi composta em Helsinque. No refrão, pensei em falar ‘California’. Achei que seria meio vergonhoso nomear uma música ‘California’ e cantar isso no refrão, mas os outros caras da banda acharam legal. Então ficou lá e virou um single! Aqui na Finlândia tocou muito no rádio. Compus durante o lockdown, surgiu do meu inconsciente. Califórnia é um lugar para mentes criativas. Se você quer ser uma estrela de cinema ou tocar numa banda de rock, Hollywood é o lugar certo. Assim acontece desde sempre. Lá é um lugar bem escuro. É ensolarado, mas sombrio em vários outros níveis. Lá é um lugar perigoso e sombrio.

Na música ‘Death of Darkness’ temos na introdução aquele timbre característico de guitarra limpa do The 69 Eyes. Como surgiu essa sonoridade lá atrás?

A primeira música gótica que compusemos foi a ‘Velvet Touch’ no nosso segundo álbum. Isso foi em 1994 e fala sobre vampiros. Lá começou essa coisa da guitarra limpa na introdução. Eu estava tentando cantar grave já naquela época. Depois, experimentei mais e abracei esse lado de cantar grave. Isso começou como uma piada, mas me pareceu interessante. Com o álbum ‘Blessed Be’, encontramos a sonoridade do The 69 Eyes. A guitarra limpa estava lá. Adoramos glam rock e gothic rock. E também industrial. Demorou um pouco para descobrir como juntar esses elementos. Levamos uns dez anos para formatar. Agora, dá para reconhecer nosso som. Fico feliz que você tenha apontado isso. É uma receita que o The Sisters of Mercy já usou também antes de nós.

A música ‘Something Real’ é minha favorita. Qual a história dela?

Ela foi composta em Hollywood, na minha piscina. Eu fui para os EUA com a ideia de compor lá. É uma música sombria e tem um contraste aí já que eu estava na piscina escrevendo. Eu estava ouvindo músicas sombrias. Ela fala sobre mim, mas com o tempo passou a ser sobre uma mulher que conheci no passado. Do meu ponto de vista, é sobre ficar anestesiado pela dor. Quando algo te machuca muito, em certo momento você passa a não sentir mais aquilo. Você não sente mais nada. Mas você quer voltar a sentir novamente alguma coisa. Essa música é sobre isso. Você precisa sentir. Sentimentos são coisas bonitas. Emoções são coisas importantes nas nossas vidas. Às vezes, você pode não querer mais sentir e se tranca por causa de emoções não tão legais. É preciso trazer de novo a alegria para a vida.

A música ‘This Murder Takes Two’, com Kat Von D, provavelmente se tornará um clássico! Como surgiu a ideia de convidá-la?

O Dez Fafara, vocalista do Coal Chamber e DevilDriver, estava fazendo uma combinação de metal e musica country. Ele fez um álbum nessa pegada com o DevilDriver, com cantores de música country que faziam participações. Até o filho do Johnny Cash, John Carter Cash, participou. Esse álbum chamado ‘Outlaws’ é muito bom. Então, o Dez e o filho do Cash eram amigos. Eles estavam no estúdio do Cash e o Dez teve a ideia de nós do The 69 Eyes gravássemos algo com o filho do Johnny Cash. Seria um álbum ou EP acústico e sombrio. Nós amamos a ideia e queríamos fazer. Seria ótimo mostrar pra ele algumas músicas acústicas, para mostrar nosso potencial. Nosso guitarrista Timo-Timo escreveu umas cinco músicas em uma semana. Algumas referências instrumentais, na verdade. Tudo instrumental para mostrar ao John Carter o tipo de música que podemos compor. Uma dessas músicas foi ‘This Murder Takes Two’. Então, essa ideia não aconteceu. Não fomos para os EUA para gravar. Nenhuma gravadora se interessou. A ideia toda foi enterrada até começarmos a compor músicas para esse novo álbum. Resolvemos mexer nessa nossa demo de country e resgatamos a ‘This Murder Takes Two’, que era a melhor. Decidimos incluir no álbum, embora ela soe diferente do resto. Finalizei as letras e nosso baixista pensou: ‘E se fosse um dueto com uma foz feminina?’ Uns 10 anos atrás, já tínhamos feito uma música juntos na época do álbum ‘X’ chamada ‘Rosery Blues’. Era um bônus track e não fez muito barulho na ocasião. Queria fazer algo mais bacana com ela e entrei em contato. Ela respondeu imediatamente que topava e gravou a parte dela em casa, em Hollywood. É uma música bonita e combinou bastante. Voei para Los Angeles e fizemos um vídeo também. O feedback dos fãs foi ótimo. A Kat Van D é uma amiga da banda. Nós admiramos o impacto cultural de tudo o que ela faz. Ela é um ícone e foi algo ótimo. Acho que é uma das melhores músicas que já fizemos. Outra que curto é a ‘Death of Darkness’, parece algo que fizemos em 2001. É uma máquina do tempo! Não dá para explicar.

A música com mais streamings do The 69 Eyes no Spotify é “Lost Boys”. Qual a história dela?

É uma história longa! Ela fala sobre o filme ‘The Lost Boys’, que estreou em 1987. Eu estava muito animado para assistir porque era sobre vampiros e rock ‘n’ roll. Fui imediatamente para o cinema. Os vampiros eram legais para caramba, tinha cabelos e jaquetas bacanas e também motos e garotas. Tudo era legal, mas a música do filme era Echo & The Bunnymen com ‘People Are Strange’. Eu fiquei desapontado porque eu estava perto dos meus 20 anos e achei que o filme fosse mais legal com os vampiros e tudo. Acabou que era um filme meio de adolescente. Fiquei decepcionado. A trilha era legal, mas não tinha nada que estivesse tocando naquele ano que saiu como Billy Idol ou Guns N’ Roses. Então, anos depois, esse filme passou a me assombrar. Assisti novamente e percebi que é sim um filme fantástico. Os vampiros do rock são muito legais! Nenhum outro filme tem vampiros roqueiros melhores! Pensei em fazer uma viagem no tempo e reescrever uma música com o nome do filme como se o Nikki Sixx e o Slash tivessem composto para o filme. Como seria? Nessa pegada Sunset Strip. Na minha mente, quando compus, foi como imaginar uma trilha sonora para o filme uns 20 anos depois. Gravamos a música e nossa gravadora alemã disse para não incluirmos no álbum porque o filme era muito ruim e as pessoas iriam odiar e rir. Nós ficamos tipo: ‘Que merda é essa? É o melhor filme de todos!’ Gravamos, mas a gravadora não quis que fosse o primeiro single. Colocaram outra. Então, conhecemos o Bam Margera, da MTV, que começou a fazer coisas com o HIM. Perguntamos se ele não queria fazer um vídeo conosco para ‘Lost Boys’. Ele reconstruiu essa atmosfera de vampiros no estúdio dele. Basicamente, fizemos um paralelo com as cenas clássicas do filme original. Fomos lá para Hollywood e tudo mais. A música finalmente saiu e hoje o filme é considerado um clássico dos anos 1980. O público adora e é como se fosse nosso hino.

12 Abr 2023

Entrevista com Jyrki 69 (The 69 Eyes)

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