16/03/2023 às 17:02

Entrevista com Eric Peterson (Testament)

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Eric Peterson é fundador do Testament e pode ser considerado um dos grandes guitarristas de thrash metal de todos os tempos. Conversei com ele sobre a turnê que chega ao Brasil e também sobre curiosidades de várias fases de sua carreira. Boa leitura!

O Testament vai começar uma turnê com o Kreator. Vamos ver a junção dos dois maiores países do trash metal: EUA e Alemanha!

Acho que a Alemanha definitivamente tem sua história dentro do thrash metal. Agora, as origens remontam a Bay Area, na Califórnia. Só que se você pensar, os dois lugares estavam fazendo coisas muito parecidas. Todos tiveram esse sentimento no mundo todo. Só que pareceu emergir primeiro do lugar de onde vim. Acho ótimo que Testament e Kreator estejam fazendo música há mais de 35 anos. Continuamos fazendo nossa música pesada. Estou muito animado com essa turnê. Vamos visitar a América do Sul também.

Qual foi a inspiração para o novo hit “WWIII”? Estamos pertos de uma guerra nuclear?

Sem querer soar clichê, mas é exatamente essa sensação de que podemos entrar em guerra. É o sentimento da música. Acho que o Testament sempre analisa o que está acontecendo no mundo e tenta ser relevante em descrever esse cenário nas nossas vidas. Tem coisas muito loucas acontecendo por aí. É um medo que todos sentem. Vemos países diferentes falando: ‘Se você fizer isso, vamos fazer isso’. Todo o resto do mundo fica: ‘Não façam isso!’. São dois caras representando suas nações. O que podemos fazer? Vamos tocar metal.

Em 2023, estamos comemorando 35 anos do álbum “The New Order”. Quais memórias você tem dessa época? O disco envelheceu bem?

Definitivamente! As músicas estão aí até hoje. Agora, se fizermos um novo álbum agora, não vai soar como um trabalho nosso dos anos 1980. Vai soar mais moderno. Isso é o que fazemos agora. Mas se você analisar o ‘The New Order’, estávamos fervendo naqueles tempos! O primeiro álbum, ‘The Legacy’, levou três anos para ser composto. Isso porque no começo tinham músicas como ‘Curse of the Legions of Death’ e ‘Raging Waters’. Aí, o Alex Skolnick entrou e escrevemos juntos ‘Alone in The Dark’, 'Burnt Offerings' e ‘Over the Wall’. Foram muitas coisas sendo feitas em três anos. Já o ‘The New Order’ foi composto em três meses! Aproveitamos alguns riffs que não foram usados no disco anterior e pensamos coisas novas. Não tivemos nem tempo. Voltamos para casa e fomos direto para o estúdio gravar. Parece muito tempo, mas não foi. Hoje em dia, se piscar os olhos, já será 2024! [risos]. O tempo está passando muito rápido. Os relógios do universo estão mais rápidos. Mas voltando para a pergunta, acho que o disco envelheceu bem sim. Muitas músicas daquele trabalho ainda tocamos ao vivo, como ‘Disciples of the Watch’, ‘Into the Pit’ e a faixa-título. A ‘Trial By Fire’ fizemos muitas vezes e devo tirar ela da cartola para tocar na América do Sul!

Como foi a composição do megahit “Alone in the Dark”?

Essa música foi o Alex Skolnick que trouxe a ideia. Quando ele se juntou a nós, estávamos mais inclinados para uma sonoridade mais maligna! [risos]. Não diria que éramos death metal. De qualquer forma, o Alex tinha uma educação musical grande. Ele veio com a proposta de fazer músicas em tons diferentes. Por isso ‘Alone in the Dark’ é no tom de Lá. Quando começamos a tocar, pareceu uma pegada meio Mercyful Fate. Era algo diferente. Foi empolgante, sabe? O refrão surgiu um pouco depois e todos foram acrescentando elementos. Foi algo muito inspirador. Quando eu e o Alex nos juntamos, nossos dois mundos se deram muito bem!

Como você analisa essa sua parceria longa com o Alex Skolnick?

Nós somos caras muito determinados, mas somos diferentes também. Quando nos juntamos, tentamos colocar na mesa as características que cada um de nós tem de melhor. Nós reconhecemos o que o outro está fazendo e isso é normalmente muito legal. Às vezes, ele chega com uma ideia e eu falo: ‘Isso é muito louco para mim, Alex. Não vou fazer isso’. Ou mostro uma coisa para ele e ele diz: ‘Isso é muito do mal’. Para mim, o que mais importa é que soem bem as ideias. Para o Alex, o que importa mais é que faça sentido musicalmente. Às vezes, algo pode não fazer sentido dessa forma, mas realmente soa bem. Agora, obviamente fizemos muitas coisas legais juntos. Tem sido ótima essa parceria.

Algum álbum do Testament merecia mais atenção do que teve?

Nosso novo álbum, por causa da pandemia. O bom é que com a internet nossa música acabou sendo bastante divulgada. Provavelmente o ‘The Ritual’ também teve pouco reconhecimento na época que lançamos. Agora, ele está sendo mais aclamado. Na época, foi uma época estranha para o heavy metal. Era quase como se o metal fosse uma palavra feia. Bandas como Pearl Jam, Alice in Chains, Soundgarden e outras realmente trouxeram uma outra vibe. Foi a era do grunge, com o Nirvana também. Quando surgiu esse nosso disco, foi estranho por isso. Acho que é um bom disco e vejo pessoas na internet dizendo que é o álbum favorito delas. Fico tipo: ‘Hum, não lembro dessa repercussão toda’. As pessoas achavam ok. Agora, tem coisas clássicas lá como ‘Electric Crown’ e ‘Return to Serenity’. Tem coisa boa lá!

Quais são os discos que mais te influenciaram na vida?

A primeira coisa que vem na minha cabeça é o trabalho da banda Montrose. Eu ouvia na época do ensino fundamental. Um primo meu gostava e me apresentou. Gosto muito também do ‘All the World’s a Stage’, do Rush e do ‘Kiss Alive’, o primeiro. O solo de bateria era ótimo. Também o ‘Toyo Tapes’ do Scorpions. Engraçado que sempre curti muito de discos ao vivo, né? Lá no final dos anos 1970 e começo dos 1980. O ‘Unleashed in the East’, do Judas Priest, ‘Strangers in the Night’, do UFO. Já nos meus anos de ensino médio, descobri o Iron Maiden com o ‘Killers’. O Venom também. Fiquei impressionado com o álbum ‘Welcome to Hell’, por exemplo. Eu vivia num lugar com florestas. Quando começou a tocar, fiquei impressionado, rasguei a capa do vinil e joguei para fora da casa! Tipo: ‘Sai daqui!’ (risos). É engraçado como era a música naquela época. Hoje em dia, você vê pentagramas em qualquer lugar. Lá atrás, se você era jovem e não conhecia, era assustador. Os do Mercyful Fate também gostei muito.

Alguma banda mais recente te chamou atenção?

Hoje em dia, o problema é que são muitos artistas que existem e todos eles soam parecidos, mas são muito bons. Precisaria checar minhas músicas salvas porque não me lembro dos nomes das bandas. Tem umas bandas que são velhas já, mas não tanto. Por exemplo, o Gojira. Amo esses caras! Especialmente ao vivo. Eles são poderosos. O Dimmu Borgir também é muito legal! Eles revolucionaram o black metal. Minha outra banda Dragonlord foi influenciada por eles. 

16 Mar 2023

Entrevista com Eric Peterson (Testament)

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