09/02/2023 às 19:00 Entrevistas

Entrevista com Mono Inc. (Martin Engler e Val Perun)

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O Mono Inc. é um dos grandes nomes do gothic metal contemporâneo e já lançaram hits como “Children of the Dark”. Agora, com o novo álbum “Ravenblack”, a banda alça voos maiores e conta até mesmo com participações especiais! Conversei com Martin Engler (vocalista) e Val Perun (baixisita) e o bate-papo na íntegra você confere abaixo. Boa leitura!

Parabéns pelo lançamento de “Ravenblack”. As letras do álbum são conectadas?

Martin Engler: Elas foram feitas pensando para funcionar de maneira individual, mas quando o álbum ficou pronto, percebi que tudo que estava na minha cabeça na época da pandemia de alguma forma apareceram nas letras do álbum. Elas falam sobre meus sentimentos e pensamentos.

A música “After Dark” traz participação da banda de folk Storm Seeker. Vocês são uma banda de gothic. Como foi juntar esses dois mundos aparentemente distantes?

Martin: Nós os conhecemos dois anos atrás durante shows do Mono Inc. que fizemos. Era na pandemia e em estádios, mas só com 2 mil pessoas. Por isso conseguimos realizar esses eventos. Eles são também nossos parceiros de gravadora e pessoas muito legais. Escrevi essa música pensando no Storm Seeker. Acho que foi uma cooperação perfeita. Eles vieram com a ideia de adicionar o hurdy-gurdy, por exemplo. Eles pensaram: ‘E se ao invés de apenas cantar e tocar guitarra, nossa participação pudesse ter esse instrumento também?’. Eles gravaram e achei perfeito! Acabou ficando até na introdução. Espero tocar essa música nas próximas turnês.

Val Perun: Não acho nem que importa tanto que eles são uma banda de outro gênero. O que importa é encontrar esse meio do caminho entre nossos estilos, de forma que todos os envolvidos amem a música. Tem que ser divertido de tocar e gravar.

Outra música muito bacana é a “Angels Never Die”, que tem participação da banda SANZ, capitaneada pelo vocalista Sandro Sanz. Essa música tem um ótimo arranjo de vozes. Como foi a composição dela?

Martin:  Eu não costumo planejar coisas do tipo: ‘Ah, que tipo de música precisamos agora? Vamos fazer uma power ballad?’. Agora, essa música não é muito típica do Mono Inc, mas precisamos tentar coisas novas de tempos em tempos. A razão para convidar o SANZ foi porque acho que o vocalista tem uma voz excelente. Ele consegue cantar numa oitava que eu não consigo. Ele tem uma pegada crua tipo o Chester Bennington, do Linkin Park. Tem uma atitude que acrescentaria para a música. Fizemos então esse arranjo vocal de oitavas. Eles também são nossos parceiros de gravadora.

Nós teremos a oportunidade de tocar em lugares maiores na nova turnê e podemos dar a chance para bandas de abertura participarem do nosso show e não apenas tocar antes. Por isso vamos levar tanto SANZ quanto Storm Seeker. Essas bandas conseguirão mais atenção dos nossos fãs assim. Isso pode ser uma grande ajuda para que eles cresçam a comunidade de fãs deles. Nós gostaríamos de ter tido essa oportunidade quando éramos uma banda pequena. É assim que deve ser. Agora, temos a chance de fazer isso.

A maioria das músicas do novo álbum são em inglês, mas “Lieb Mich” e “Wiedersehen Woanders” são em alemão. Como é cantar na língua natal de vocês?

Martin: Nós não lançávamos músicas em alemão em sete anos! Os fãs alemães sempre demandavam mais coisas na nossa língua. Durante os últimos anos, não consegui compor nada em alemão. Agora, durante esse processo do “Ravenblack”, consegui. Não é um álbum conceitual, todas as letras funcionam de forma separada. Então, tive a oportunidade de simplesmente seguir minha intuição. A primeira coisa que surgiu na minha cabeça foi certo trecho de ‘Lieb Mich’. O universo queria que eu compusesse em alemão. Agora, não temos receita para gravar um disco. O Mono Inc. é sobre ouvir o coração e a intuição.

Como foram as experiências de tocar no Wacken?

Martin: Nem sei quantas vezes tocamos, mas acho que foram três vezes. Acho que tocaremos ano que vem também. É uma honra tocar em grandes festivais, não só no Wacken. Os festivais nos contratam porque entendem que poderão vender ingressos com essas bandas. Ou seja, apreciamos quando nos contratam. Isso mostra que nós somos fortes o suficiente para levar pessoas aos festivais. Mas pessoalmente, eu não gosto muito do Wacken. Acho que é muito grande. São dezenas de palcos e milhares de pessoas! Quando eu era novo, ia para festivais e tinha um palco só. Você comprava uma cerveja ali e pronto! [risos]. Ou um churrasquinho! Todos ficavam lá de frente para esse palco. Hoje em dia, o Wacken não é mais apenas música. É sobre merchandising e lucro em todo canto. É assim a indústria da música de forma geral.

Val: Eu ainda não tive a chance de tocar no Wacken, mas já toquei em outros não tão grandes. Acho legal tocar nesses lugares e tocar em frente a milhares de pessoas. Entrei agora na banda e isso ainda me choca! Os fãs do Mono Inc. vão aos festivais, mas é legal ver as pessoas que nunca sequer ouviram nosso som e eles se divertem conosco! É tipo saber que nosso trabalho foi bem feito.

A música “Children of the Dark” é o maior sucesso do Mono Inc. no Spotify com mais de 11 milhões de reproduções. A que você atribui esse sucesso? Quais memórias você tem dessa composição?

Martin: Acho que aquele gancho vocal é muito bom. O vocal feminino fazendo o ‘Larara’. A parte do vocal masculino só está lá porque alguém tem que cantar! [risos]. Quando escrevi essa música, lembro que surgiu essa melodia e percebi na hora que seria um grande hit. Então, gravamos a música. Estava tudo pronto e estávamos mixando. Pensei: ‘Espera aí. Eu falo no refrão que somos os filhos da escuridão e estou cantando sozinho’. Isso não fazia sentido! Só tínhamos 48 horas sobrando e convidei as três pessoas que primeiro vieram na minha mente e que sou amigo. Perguntei se eles queriam participar. Eles toparam! Por isso teve a participação do Tilo Wolff, Joachim Witt e Chris Harms. Sou grato por essa música. Temos que tocar sempre e nunca me enjoa! Quando começa a introdução, as pessoas gritam e cantam junto. É um sentimento fantástico! Deve ser tipo o que o pessoal do Iron Maiden sentiu quando começaram a tocar ‘Fear of the Dark’”.

Como vocês analisam a cena do rock/metal na Alemanha?

Martin: Acho que já era difícil lá atrás em 2005 quando começamos. Não era fácil fazer sucesso. Hoje em dia, isso ficou ainda mais difícil. Acho que não existem muitos grupos novos. Os tempos mudaram. Quando eu era criança, todo mundo tocava piano ou violão. Hoje, todos tocam PlayStation ou ficam atrás de um computador. Eu gostaria que tivesse mais gente nova. Se você olhar os festivais, eles se repetem toda hora. Sempre tem o Iron Maiden no Wacken. Não temos muitos headliners fortes. Existem umas cinco ou seis bandas que podem fechar o Wacken. É meio chato, né? Seria legal se fosse mais diversificado.

Val: Eu não sou da Alemanha e sim da Croácia, então só agora estou vivendo de perto a cena alemã. Existem bandas já estabelecidas. Lá na Croácia, também é assim. É difícil fazer sucesso. Por isso os músicos se mudam para fora do país. Muitos tentam mudar suas próprias personalidades para se tornar mais popular para alguma camada específica. Ficam pulando de gêneros. Prefiro me manter no que realmente amo.

Quais são os cinco discos que mais são importantes para vocês?

Val: Sempre amei a energia que uma banda tem no palco e como isso reflete no estúdio. Por isso, um deles seria o The White Stripes com o álbum ‘De Stijl’. Gosto também de bandas de rock da Croácia, que me dão nostalgia. O ‘Ride the Lightning’, do Metallica, que foi o primeiro que ouvi da banda. É algo muito poderoso. O quarto seria o ‘Hybrid Theory’, do Linkin Park. E por último é o ‘Blunderbuss’, do Jack White

Martin: O melhor disco de todos para mim é o “Disintegration”, do The Cure. Foi lançado quando eu tinha uns 16 anos e me tocou muito. Tem aquela vibe depressiva dessa época da adolescência. Outro foi o ‘Highway to Hell’, do AC/DC, que foi o primeiro que comprei. O terceiro seria o ‘Floodland’, do The Sisters of Mercy. O quarto seria algo do Depeche Mode. Talvez o ‘Construction Time Again’. O quinto seria o ‘The Queen is Dead’, do The Smiths. Outra banda que me inspirou muito na forma que escrevo letras. O número seis seria o ‘Black Album’, do Metallica!

Podemos esperar que o Mono Inc. venha ao Brasil?

Martin: Nós adoraríamos! Tenho um amigo português que já foi no Brasil e ele disse que é muito divertido ir em um show no Brasil. Os fãs ficam loucos! Ele viu nosso show em Berlin na última turnê e eu achei aquele público maravilhoso. Ele disse: ‘As pessoas são assim na Alemanha? Você precisa conhecer o Brasil!’. Então, espero que um dia exista muita demanda de fãs e alguém tenha coragem de nos chamar.


09 Fev 2023

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