27/09/2022 às 21:00 Entrevistas

Entrevista com Alex Meister (Pleasure Maker, Marenna-Meister)

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22min de leitura

Alex Meister é um dos maiores fenômenos do hard rock brasileiro. Famoso por bandas como Thoten, Pleasure Maker e Marenna-Meister, o guitarrista se prepara para retomar a carreira solo com o álbum “Rock and a Hard Place”, que vai sair no final do ano.

Conversei com Alex Meister sobre esse novo trabalho – que une releituras de clássicos de seu passado com composições inéditas – e também falamos sobre Pleasure Maker, história do hard rock e muito mais! Boa leitura!

Gustavo Maiato: Como está seu momento de vida nesse pós-pandemia? Tem novo álbum vindo aí, certo?

Alex Meister: Sim! Essa vida de pós-pandemia já está retomada. Voltei ao trabalho presencial já tem mais de 1 ano. Meu momento de carreira é algo novo: primeira vez que faço um trabalho como vocalista principal. Nunca tinha feito isso antes. Sempre fui guitarrista e produtor. Sempre outra pessoa cantava.

Por força da necessidade, decidi dessa vez eu mesmo cantar! [risos]. O novo disco vai sair em dezembro. Ele aconteceu, não foi algo planejado. Esperem que nesses próximos meses vamos ter muitas coisas boas aí!

Gustavo Maiato: Vamos falar um pouco sobre sua carreira e relação com a música. Qual sua primeira memória musical? Como descobriu que queria ser guitarrista?

Alex Meister: São lembranças muito longínquas isso aí, hein? Vai entregar a idade! [risos]. Minha relação com a música começou muito cedo. Eu tenho um irmão mais velho que já curtia rock. O pessoal do meu prédio também curtia, então rapidamente fui doutrinado para o rock! Graças a deus!

Eu tinha uns 10 anos por aí. Logo de cara, rolou uma identificação. Isso era nos anos 1980. Bandas como Bon Jovi, Poison e Winger estavam na crista da onda. Fora bandas mais pesadas como Metallica. Ainda não era o ‘Black Album’ e sim o ‘...And Justice For All’, que é muito bacana também.

Agora, daí para decidir virar guitarrista foi muito rápido! Por mais que ainda não tivesse MTV no Brasil, cheguei a ver clipes na TV aberta. Olhava os caras fazendo solos de guitarra e pensava: ‘Legal isso aqui!’. Quando vi o filme ‘Crossroads’ com o duelo do Steve Vai, falei: ‘É isso que quero ser!’. Entrei por esse caminho sem volta. De lá para cá, já passaram tantos anos que não vale a pena contar! [risos].

Gustavo Maiato: Como você começou na carreira da música? Já foi direto na banda Tothem?

Alex Meister: O Thoten foi na segunda metade dos anos 1990. Comecei a tocar no final de 1980. Minha primeira banda foi em 1990, tive um ou outro projeto. Agora, banda séria mesmo tive em 1993. Era a Cavalast, de metal. Fazíamos muitos shows dentro do Rio de Janeiro. Tentamos gravar um disco, mas não rolou.

Logo em seguida, fui membro fundador do Thoten. O guitarrista era o Frank Schieber e ele estava na Cavalast comigo antes. Ele veio com a ideia de fazer uma banda com o vocalista Renato Tribuzy. Acabei entrando na história.

Meu lado compositor demorou um pouco mais para surgir. Minha relação com a guitarra era mais de ser um guitarrista solo, saca? Não tinha ambição de compor. Isso veio depois. Queria tocar e arrasar no palco. Isso que era legal. Tanto que no Thoten, eu não era compositor. Quem compunha era o Renato e o Frank.

Só passei a lidar com composição na virada de 1990 para 2000, quando pensei: ‘Preciso de um trabalho onde sou líder e compositor para fazer o som que eu quero’. Aí fui para o hard rock e fundei o Pleasure Maker. Tudo que toquei antes não era minha veia principal. Não que não gostasse de metal. Meu coração é do hard rock!

O problema é que tive duas bandas antes que os discos não saíram ou saíram quando eu não fazia mais parte da banda. Pensei que estava na hora de fazer meu próprio trabalho para fazer o disco acontecer. Era algo frustrante, né? Se você é um músico e não tem um álbum, não é ninguém.

Aí surgiu o Pleasure Maker, a partir de uma banda que era Bon Jovi cover. Fiz um show com eles e toquei uma faixa do primeiro álbum chamada “Out of Control”. Isso foi em 2001. O público gostou. Tinha um refrão forte e tal. Vi que o caminho era esse. Encerrei o cover e comecei a compor. De 2001 para 2002, compus o primeiro álbum inteiro do Pleasure Maker.

Gustavo Maiato: Nesse começo de carreira, você tocou no exterior. Como foi essa experiência?

Alex Meister: Tive uma experiência legal nesse sentido com o Thoten. Saí do Tothen de 1999 para 2000, mas voltei em 2003 para fazer shows na Europa. Participamos do Gods of Metal, que era um evento gigante! O headliner era o Whitesnake. Tinha o Motörhead, Saxon, Queensrÿche e até o Angra!

Foi legal porque você está junto com os músicos das bandas famosas, né? Fui comprar uma cerveja e esbarrei com o Biff Byford do Saxon. Aí depois passei pelo Mikkey Dee do Mötorhead. Maior barato! Aí vi o David Coverdale entrando com as BMWs dele no final do evento. Isso que é vida! Eu estava junto com os caras dos meus pôsteres.

Pensando pelo lado profissional, foi meu primeiro contato com uma estrutura que funciona. Não precisa passar som, por exemplo. Já está tudo lá. Eles acertam o som na primeira música. Tem o tempo bem definido também. Tínhamos 30 minutos para tocar e 20 minutos para montar o palco. Se conseguíssemos montar em 15, podia ter 35 minutos de show. Se atrasar, perdeu.

A agenda das bandas foi mantida certinho. O som funciona. Por que não fazem assim aqui? Você começa a mudar o mindset em relação a como trabalhar. Isso fez diferença para mim como artista e profissional. Analisei o que estava entregando para o público. Eram 15 ou 20 mil pessoas! Percebi o que precisava melhorar. Isso virou a chave e culminou com o lançamento do primeiro disco do Pleasure Maker logo depois disso. Era para ter saído em 2003, mas saiu em 2004 por causa disso.

Existem parcerias que fiz naquela época que mantenho até hoje. Por exemplo, meu engenheiro de som era tecladista do Thoten. É uma parceria de mais de 20 anos! Essas coisas são muito legais.

Gustavo Maiato: Como surgiu o “Love on the Rocks”, primeiro álbum do Pleasure Maker? No seu novo disco, vão ter versões de clássicos dessa época, né?

Alex Meister: Esse novo álbum tem releituras de clássicos da minha carreira e também músicas inéditas. O que me fez pensar inicialmente em ser o líder da coisa foi porque as coisas nunca chegavam onde eu queria. Não aconteciam por algum motivo. Eu queria ter um álbum lançado. Era minha forma de pensar. É o que fica.

Faço shows e adoro o palco. Só que se não tiver nada além disso, as pessoas esquecem. Já tive banda cover por exemplo. Várias delas. Quando a pessoa vê o show, vai lembrar do original, claro.

Outro fator é que essa também seria a primeira vez produzindo um disco. Desde o começo, queria coproduzir as coisas. No Cavalast já era assim e no Thoten também. Queria estar junto de quem mixava, tanto que morei em São Paulo durante um tempo em 1998 por causa disso. Queria entender o processo. Então, quando surgiu a oportunidade do “Love on the Rocks”, quis botar isso em prática.

Queria um som daquela forma. Se eu chamasse outra pessoa para produzir, não ia funcionar. Eu queria o que estava na minha cabeça. Compus, produzi e contratei músicos para serem meus parceiros de banda. Se analisar bem, era um trabalho solo. Isso culmina com minha fase atual. Na época, não tinha meu nome. Era um nome de banda.

Achava que ter um nome de banda seria mais forte do que “Alex Meister”. Não sei se foi um erro ou acerto. Comecei a produzir no começo de 2003. Precisei parar a produção para fazer os shows com o Thoten. Só em 2004 voltei para finalizar o disco e lancei no segundo semestre.

Nesse álbum tem a “Hard to Say Goodbye” e a “Just Thinkin’ About You”, que regravei para meu novo disco. A “Just...” foi a primeira música que escrevi na vida. Fiz uma versão dessa música na época com o Tribuzy cantando. Foi a partir dessa música que comecei o processo de pensar o “Love on the Rocks”.

Lancei o disco de forma independente e essa música abriu as portas para mim como músico e compositor. Consegui um reconhecimento legal no site MelodicRock.com, que é da Austrália. Era a referência para hard rock na época.

Vale lembrar que nesse início dos anos 2000, o hard rock estava completamente no underground. Ninguém queria saber dessa porcaria! [risos]. Ninguém tocava isso. Esse site era onde as pessoas se reuniam, sabe? As bandas estavam ali. Entrei para o “Melhores do ano de 2005”. Isso me abriu portas para ter meu primeiro contato internacional.

A recepção no mercado foi curiosa. O hard rock estava em baixa e na hora que lancei o disco as pessoas da imprensa olharam com uma cara tortíssima! Por que esse cara está tocando esse estilo em 2004? Todas as revistas me deram pau. Era a época do new metal, sabe? Em 1992, o hard rock já estava começando a ir para o underground. Poucas pessoas ouviam. Ficou algo meio pejorativo. O mercado mudou. Antes, o hard era o mainstream do heavy metal. Depois, falaram que era coisa de vendido.

No Brasil, o hard rock nunca se criou igual na Argentina e no Chile. Nesses países, Europe e Def Leppard são enormes. Isso vira um papo sociopolítico, porque no Brasil estava uma época difícil economicamente. Tinha hiperinflação e tudo mais, não havia um mercado mais aberto. O público não aceitava essas músicas com mensagens de festa. O hard era a representação do capitalismo ganhando a Guerra Fria.

O Muro de Berlim não tinha caído ainda. Como vão comemorar ainda? A economia aqui estava um lixo. As pessoas ouviam até o Barão Vermelho e depois passavam direto para o Sepultura. Tinha um gap ali no meio, que era para ser preenchido pelo hard rock. O momento político explicava isso.

A partir de 1990, o mercado se abriu mais. A entrada da MTV ajudou muito também. Tinha pouco show estrangeiro aqui, depois foi melhorando. Chegou o Hollywood Rock, a segunda edição do Rock in Rio. O Skid Row foi uma banda que pegou aqui. O Guns N’ Roses também. Bon Jovi pegou em uma fase mais tardia.

Então, como a maré estava ruim aqui, passei a mandar material lá para fora. Gastei uma nota nisso! Foi aí que a coisa começou a melhorar. Os sites começaram a pegar o material, fazer reviews e falar que eu fazia um som que ninguém fazia mais. Gostavam muito desse lance de refrão, meio Dokken e tal. Só aí que percebi o quanto eu era influenciado pelo George Lynch! [risos]. Foi a partir das críticas internacionais, que falaram que eu parecia com ele.

Isso abriu o caminho para o Pleasure Maker. O disco saiu em outubro de 2004, mas entrou no “Melhores de 2005”. A coisa funcionou. Fechei contrato com a Spiritual Beast, do Japão, que é a gravadora do Hibria também. Fechei a arte do disco e ficou bem bonito! Refizemos a arte gráfica. O encarte ficou bem legal. O disco foi relançado em 2006 assim.

Depois disso, tive uma resenha também na revista brasileira Valhalla. Ganhei nota 9! Ou seja, só depois que um gringo bateu palma que a mídia nacional passou a valorizar. As coisas passaram a ficar mais fáceis para meu lado! [risos].

Gustavo Maiato: Quando surgiu a ideia de começar o segundo álbum “Twisted Desire” (2008)? Também foi um “Alex Mesiter Solo” disfarçado de Pleasure Maker, né?

Alex Meister: Já tinha 4 anos do lançamento do primeiro disco. Em 2007, pensei em fazer um novo trabalho. No “Love on the Rocks”, apontei para várias vertentes diferentes do hard rock ao mesmo tempo. Compus tipo como um brainstorm. No caso do “Twisted Desire”, percebi quais foram as músicas que as pessoas gostaram mais, como a “Just Thinkin’ About You” e “Hard to Say Goodbye”, e resolvi seguir essa linha.

Comecei pela música título, que é a “Twisted Desire”. Eu estava ouvindo muito hard rock da Escandinávia, então enchi de teclado o tempo todo! Mudei a formação da banda, para trazer uma cara nova. Trouxe um pessoal mais jovem. Foi uma experiência bacana. Como já tinha contrato com gravadora internacional, desenrolei mais fácil contrato com a Paris Records, dos EUA.

Lançamos em outubro de 2008. Fiz um clipe com cenas de um show em Curitiba. Tive uma divulgação maior, viajamos pelo Brasil. Em 2005, surgiu um divisor de água no mercado do hard, com o surgimento do Crashdïet. Foi a primeira banda nova que surgiu e trouxe uma comoção. Eles eram mais jovens, com atitude meio glam. Tinham visual, atitude e músicas boas.

Na hora que eles surgiram, o mercado mudou. Em 2004, eu estava sozinho no mercado. Em 2008, apareceu o Reckless Love, H.E.A.T etc. Era uma nova onda do hair metal. Apareci no meio do bolo. Isso foi bom e ruim. Antes, não tinha concorrência. Depois, veio uma avalanche de bandas!

Os primeiros discos do H.E.A.T foram muito fortes, por exemplo. As bandas vieram com algo que eu não tinha. Precisava correr atrás. Divulguei o disco e abrimos para o Richie Kotzen no Hard Rock Café. Fizemos coisas legais.

Gustavo Maiato: Como você analisa essas correntes do hard rock? Temos vertentes fortes nos EUA, Europa e mais especificamente na Escandinávia, certo?

Alex Meister: Se você voltar nos anos 1980, tem uma diferença clara. Existem essas três vertentes claras: EUA, Europa – tipo Alemanha e Inglaterra, e Escandinávia. A americana é a mais festiva das três, obviamente. Leva para algo mais sleaze e rasgado. Bem típico do hair metal. Na Europa, se você pegar a Inglaterra e a Alemanha, o som é mais pesado.

Isso no metal é assim também, acho. Bandas alemãs são mais pesadas. Tem a ver com a história de cada lugar. O contexto sociopolítico faz diferença. Agora, na Escandinávia, era o som mais próximo do AOR. É um hard rock, só que com mais teclado. Não era festivo como o americano, mas era clean e light. Gosto de todas as formas. É mais limpo porque a vida na Escandinávia é mais tranquila. O pessoal não vai cantar os problemas americanos por lá. Isso influencia.

Quando chega a nova onda na segunda metade dos anos 2000, isso passa a não valer mais. Tudo ficou misturado em uma coisa só. Cada banda era um caso. O H.E.A.T era uma releitura do Europe. O Reckless Love era muito americano. O Crashdïet é uma mistura do Mötley Crüe com Def Leppard. É engraçado isso! É sleaze como o Mötley, mas com os refrãos fortes e produção mais limpa. Ou seja, essa nova onda desconfigurou tudo. Não tinha mais banda americana. Eles só ouviam bandas americanas velhas. Os europeus ouviam coisas novas.

Gustavo Maiato: Como você absorveu essas três vertentes dentro da sua carreira?

Alex Meister: Se pensarmos por fases, na segunda metade dos anos 2000, eu estava muito voltado para essa pegada escandinava. Muito teclado, tanto que o “Twisted Desire” tem muito teclado! Agora, se olharmos minha carreira como um todo, é uma mistura de tudo. Se você pega discos que lancei mais recentemente, são álbuns focados em guitarra.

Eu sou guitarrista, mas procuro ter um olhar em tudo. Componho e produzo, então não penso só no meu instrumento. Por mais que pense em todo conjunto, não fujo da guitarra. Tenho sempre riffs e solos.

A questão melódica e de construção de refrãos fortes vieram até mim pelas bandas escandinavas. A coisa mais pegajosa. Já minha guitarra pesada e virtuosa é mais puxada para o americano. São tantas coisas que escutei ao longo dessas décadas! Posso citar bandas que me influenciaram mais, como Winger, Dokken, Def Leppard, Rat principalmente. O Bon Jovi da primeira fase, Scorpions.

Falei muitas bandas americanas e poucas europeias. O Scorpions e o Def Leppard, que são europeias, foram para os EUA e meio que viraram americanas! Incorporaram o estilo dos EUA. Todos foram para Los Angeles. Bandas de outras partes dos EUA foram para lá. O Danger Danger é de Nova York. As bandas que ficaram na Europa, como o Bonfire, da Alemanha, mantiveram essa dureza a mais. O Europeu é mais duro. O americano é mais solto.

Sinto que no meu caso, tenho os dois lados. Tenho muito do alemão. Minha família tem origem na Alemanha. De lá que veio meu sobrenome “Meister”. As pessoas acham que é nome artístico, mas não é! [risos].

Gustavo Maiato: Em 2011, você assume o nome “Alex Meister” e lança o álbum “My Way” com seu nome. Como foi essa transição? Por que não usou mais "Pleasure Maker"?

Alex Meister: Naquele momento, não sabia se o Pleasuke Maker ia voltar. Em 2010, percebi que banda autoral dava muito trabalho. Eu fazia tudo e resolvi dar um tempo para me divertir. Pensei em fazer covers. Entrei em um Bon Jovi cover até. Em paralelo, vi que precisava formatar minha marca como músico e artista.

As pessoas me viam como guitarrista do Pleasure Maker. Isso é uma coisa ruim. Quem é fã normalmente conhece o cantor, mas não procura saber quem é o guitarrista. Muitos não sabem quem são os guitarristas do Scorpions, por exemplo. Você só sabe quem é o Andy Timmons porque, além de tocar no Danger Danger, ele fez carreira solo com o nome dele. Mesma coisa com o George Lynch.

Por isso decidi fazer um disco instrumental e aí nasceu o “My Way”. Foi um trabalho muito importante. Era o primeiro momento em que fiz um álbum sem voz. Fiz tudo sozinho mesmo. Antes, tinha contribuição de arranjo dos músicos. Nesse trabalho solo instrumental, foi um divisor de águas.

Compus de outra forma. Sempre comecei pelo refrão, isso não mudou. Mas as formas de construção das canções mudaram. Me soltei mais na guitarra e pensei mais na melodia. Mesmo sendo um disco instrumental. Qual riff seria mais musical para as pessoas serem pegas por esse gancho?

Não é um disco 100% shredder. Vai mais na linha do Joe Satriani. Não é algo só cuspindo nota. Não faço isso de subir e descer escala igual um louco. É como se eu estivesse cantando com a guitarra. Decidi montar meu estúdio e fui o engenheiro de som. Gravei tudo aqui, menos a bateria. Gravei e mixei aqui e masterizei fora. Trouxe muito da minha personalidade, sem nenhum tipo de amarra.

Tem músicas como “What’s Up” e “Night Lights” que são muito minha cara! Você escuta e se conecta com o Pleasure Maker. Esse disco é como uma ponte entre os tempos do “Love on the Rocks” e minha carreira mais recente. Só dá para entender o que faço agora se você entender o “My Way” como um conector.

Foi o primeiro momento em que senti que fiz o que queria fazer. Tempos depois, saiu até o clipe da “What’s Up”. Era aquilo o que eu queria. Foi um ponto de amadurecimento musical. Ao mesmo tempo, tive a primeira experiência de ver que as pessoas sempre esperam algo. Lancei o clipe de “Helena”, que vai para uma linha meio Carlos Santana. É muito diferente! Quis mostrar versatilidade, mas as pessoas na época não gostaram! [risos].

Pessoas que eram colegas falaram: “Por que você fez isso?”. Eu expliquei que era o contexto do álbum. Realmente é ok ouvindo no álbum, mas no clipe ninguém entendeu nada! Paciência, né? [risos].

Gustavo Maiato: Depois disso, você decidiu retornar o Pleasurer Maker. Só que rolou um grande hiato aí...

Alex Meister: Pois é. Fiquei sem lançar nada com o Pleasure Maker de 2010 a 2017. Tive uma reunião em 2014 para um show. Foi um dia legal de casa cheia. Decidi me dedicar na carreira de professor. Trabalho com isso há 25 anos. Nesse meio tempo, gravei também com a banda Paradise Inc. Lembro bem do single “Secrets”, que contou com Mark Boals e Edu Ardanuy. Não queria que as pessoas tivessem uma imagem fechada minha de que eu era apenas o Pleasure Maker. Queria que as pessoas me vissem como artista que faz várias coisas.

Gustavo Maiato: Você comentou sobre seu lado professor de guitarra. Como esse seu lado influencia o lado compositor e vice-versa?

Alex Meister: São duas áreas que coexistem de maneira muito fácil. Lido sempre com alunos que querem aprender rock ou evoluir nesse estilo. A linguagem é sempre legal. Uma coisa chama a outra. Muitos chegam para fazer aula comigo porque me conhecem por minhas bandas e gostam da forma com que toco.

Outras vezes, podem nem me conhecer e descobrem meu trabalho. É uma relação bacana. Meus alunos acabam participando dos bastidores de quando estou gravando. Eles veem a produção sendo feita e as músicas sendo criadas até ficarem prontas. É muito legal isso. Funciona como um laboratório para eles. As pessoas não tem noção de como faz um disco. É um processo de meses! Não é nada rápido. Parece um trabalho de relojoeiro, com vários detalhes!

Gustavo Maiato: Voltando para o Pleasure Maker, você lançou o “Dancin’ With Danger” – terceiro da banda – em 2018. Depois disso, não tivemos mais lançamentos do grupo. Como foi voltar com o grupo anos depois?

Alex Meister: Na época, veio aquela voz no meu ouvido dizendo: “Você precisa fazer um disco novo”. Eu estava há 6 anos sem lançar disco nenhum. Precisava de disco novo, o que fazer? Podia apostar em trabalho solo ou voltar com o Pleasure Maker. Acabei optando por voltar com a banda.

Foi bacana, porque voltei com uma forma de composição e com a cabeça diferentes. Fiquei extremamente feliz com o resultado. As músicas ficaram muito legais do que as coisas que fiz antes. Da faixa 1 até a 11 era tudo bacana, fiquei muito orgulhoso. A música título ganhou clipe e funcionou muito. Depois, lancei a “It Ain’t About Love”, que foi outra que entrou no novo álbum como regravação.

Eu estava um tempo sem subir no palco para material autoral. Foi especial esse retorno. Tinha a carga de estar tocando e éramos uma banda de mais de 15 anos! Tinha uma história por trás. Fiz o show de lançamento e fiz contrato com a gravadora italiana Steel Heart, do mesmo cara da Frontiers SRL. Também fechei com a Animal Records, de São Paulo.

O disco saiu em março de 2018. Eu queria ver a reação do público. Todos cantaram “It Ain’t About Love”, mesmo sendo nova! Foi algo emocionante, sabe? É indescritível compor uma música e ver o público cantando. É a consolidação do trabalho, não tem nada melhor do que tocar as pessoas.

Para mim, o “Dancin’ With Danger” marca o auge da minha carreira. Tudo que fiz antes foi muito legal, mas agora trouxe uma maturidade de composição e produção. Sempre que escuto, me dá um orgulho. As pessoas elogiam também, tanto no Brasil quanto no exterior.

Gustavo Maiato: Uma marca registrada da sua carreira sempre foi sua guitarra signature Dermeister, que está até em capa de álbum! Como foi o desenvolvimento desse instrumento?

Alex Meister: Foi um projeto muito legal que fiz com a 2Luthiers. Eles são do Rio e desenvolveram esse instrumento. Foi bem nessa época do “Dancin’ With Danger”. Pensei que precisava de uma guitarra nova para coroar isso. A ideia era fazer uma Super Strato bem shredder, mas com elementos a mais e sendo a cara dos anos 1980!

Fizemos uma guitarra colorida com formas geométricas. Acabou que fizemos até mais de uma guitarra. Tudo nela é exclusivo. Desde o corpo até o headstock. Ela é feita para shred. São 27 trastes e tem um corte acentuado para alcançar os trastes mais agudos. Ela é uma personificação de um instrumento para mim. Demorou para ficar pronta, mas ficou muito legal.

Ela é feita sob encomenda e dá para comprar no site. Você pode escolher a madeira dela. As minhas apresentam configurações diferentes de madeira. Uma delas usa madeira nacional como o freijó e escala em ebony. A outra tem escala com flame maple americano e alemão. A configuração do braço faz com que as cordas sejam extremamente baixas! Não existe nada tão baixo quanto isso! Você encosta e sai som.

Ela tem a escala reduzida em meia polegada. Uma Strato padrão tem 25,5’’. Essa tem apenas 25’’. Isso já faz com que a guitarra fique mais maleável. Eu uso regulagem de cordas 0,8. Isso dá mais sustain e fluidez. Fazer bend e vibrato com corda 0,11 é coisa de maluco!

Já a captação é a EMG. Sempre usei essa marca. Uma delas usa a EMG 81 e a outra usa a DiMarzio X2N. O nome do modelo é DerMeister. É um nome próprio. “Der” é o artigo em alemão. É um projeto sensacional e tem tudo que preciso. Tenho várias guitarras, mas só toco com essa!

Gustavo Maiato: Como surgiu a decisão de encerrar o Pleasure Maker e o início do Marenna-Meister, com o vocalista Rod Marenna?

Alex Meister: Isso foi um processo interessante. Em 2019, pensei que precisava algo diferente do Pleasure Maker. Já tinha fechado a conta dele, sabe? Não tinha como ir além do que fiz com o “Dancin’ With Danger”.

Precisava escolher entre retornar para o trabalho solo ou me associar com outro músico. No primeiro semestre de 2019, comecei a conversar com o Marenna. Trocamos ideia e surgiu a ideia de fazer um trabalho juntos. Eu o conhecia por internet. Um dia, eu estava ouvindo uma rádio chamada Rock Melodic. Estava tocando um som, aí fui consultar a música no Heavy Harmonies. E quem estava envolvido era um brasileiro.

Aí vi que essa pessoa já era minha amiga no Facebook! Fui mandar mensagem e dei parabéns. Ficou nisso. Era o Marenna! Então, depois, quando surgiu essa oportunidade de fazermos algo juntos, foi muito legal. Eu tinha já uns refrãos, riffs etc. Eu abri minha biblioteca de riffs e mandei para ele. Expliquei a estrutura. No dia seguinte, ele veio e me cantou um negócio absolutamente foda! Com uma voz absurda! Estava fechado! Esse som vai ficar foda. Essa música virou a “(There’s So) Many Things”. O disco “Out of Reach” começou a nascer aí.

Essa música é sensacional. Para mim, é a melhor forma de ver a mistura de composição minha com o Rod Marenna. Ele é um compositor nota mil. Nessa época, ainda pensava em voltar para a carreira solo. Só que continuamos a compor e veio a “Follow Me Up”. Montamos um time e gravamos essas duas. Isso era abril de 2019. Lançamos “Follow Me Up” como single e de cara veio gente de gravadora querendo fechar.

Nem lançamos a “(There’s So) Many Things”. Fechamos o contrato e a ideia era lançar o disco em março de 2020. O Marenna tinha que terminar o EP dele e eu precisava fazer a despedida do Pleasure Maker. Fiz um show de despedida. Eu comecei a lançar esses singles que desembocariam no novo álbum solo, mas como eu já tinha contrato para o Marenna-Meister, resolvi aguardar e voltei minhas forças para o “Out of Reach”. Isso foi de outubro de 2019 até março de 2020.

Foi uma loucura! Compor, pré-produzir e tudo mais. Em janeiro nós estávamos criando arranjo ainda! Pensei que ia ficar algo feito nas coxas! [risos]. Eu voei e o disco acabou maravilhoso! Ele é uma versão melhorada do Pleasure Maker. Era a mesma ideia meio rasgadona, mas com mais a dizer, com mais identidade. O Marenna trouxe sua personalidade e foi um match perfeito.

A recepção do público foi maravilhosa. Todos esperavam para ver como seria nossa parceria. Ninguém se decepcionou. Quando saiu, falei para o Marenna: “Esse é o melhor trabalho que já fiz e que você fez também”. Fizemos dois clipes bem legais. Só nos conhecemos em junho de 2020, quando fomos filmar os clipes aqui no Rio. Ele é de Caxias do Sul (RS). Passamos um final de semana filmando clipes. Foi demais essa experiência.

Gustavo Maiato: Depois do lançamento do “Out of Reach”, você se voltou para a ideia de retomar a carreira solo. Lançou dois singles e agora prepara o lançamento de “Rock and a Hard Place”. Como surgiu a ideia de revisitar clássicos do seu passado com uma nova roupagem e juntar com material inédito?

Alex Meister: Nada disso foi planejado! Isso aconteceu! [risos]. Começou quando relancei a “Just Thinkin’ About You” em 2019. Pensei em regravar porque ela tem um valor sentimental e profissional importante para mim. Eu a compus ainda em 1997! Merecia uma cara nova com minha voz. Nunca fui lead vocal, só fiz backing vocals. Isso mudou também. Foi um trabalho de autoconhecimento bastante curioso!

Depois de lançar o disco de estreia do Marenna-Meister, surgiu tempo na agenda. Resolvi lançar o single de “Hard to Say Goodbye”, que também foi releitura. Isso foi junho de 2021 e deu muito certo. E se eu fizesse releitura de “It Ain’t About Love”? Ela tinha sido meu single mais importante com o Pleasure Maker. Resolvi regravar ela toda. Fiz um clipe a partir do clipe original.

Lembrei que tinha uns americanos que queriam fechar comigo na época do Marenna-Meister. Só que eles queriam um single novo e nós tínhamos acabado de lançar o primeiro disco da banda. Resolvi mandar para eles meus singles novos. Ele ouviu e pirou! Mandou para outros sócios e todos gostaram. Eles falaram para eu lançar um álbum! Isso era final de 2021. Resolvi fazer outras releituras do Pleasure Maker, porque é uma forma legal de mostrar como acho que aquelas músicas deveriam ser. Botei outras canções e nem dá para reconhecer as originais! É como se as originais fossem um esboço! Mudei tudo! Tem música que comecei a partir da ideia original, aí depois refiz completamente.

Só que decidi compor material novo também. Criei a “Game of Love” com a ideia de ser algo e impacto para abrir o disco. Ela se encaixou perfeitamente. Normalmente, quando componho um álbum, o nome dele já está na minha cabeça antes. Nesse caso, “Rock and a Hard Place” surgiu do meio para o final do processo. Foi um disco diferente e as coisas foram acontecendo. Não planejei. Sou metódico, mas as coisas foram acontecendo! São coisas loucas e foi outro divisor de águas na minha carreira. Vai reforçar minha marca como compositor, artista e guitarrista.

Vai ficar claro para quem escutar os outros discos da minha carreira. As pessoas vão entender minha personalidade nas músicas. Às vezes, o compositor não é o intérprete, mas dá para reconhecer. Por exemplo, o Jack Ponti era um cara que era parceiro do Bon Jovi lá atrás. Fez músicas para Alice Cooper também.

Aí, um dia, comprei um dico do Every Mother’s Nightmare chamado “Wake Up Screaming”. Começou a tocar uma música e pensei: “Isso aí é tão Jack Ponti!”. Fui pegar o encarte e ver o crédito. Estava lá o nome dele! Ou seja, ele tem assinatura. Para mim, esse é o ponto. Escutar o som e saber que é o Alex Meister que está fazendo.

Gustavo Maiato: Como foi fazer o clipe de “Game of Love”?

Alex Meister: Eu fiquei muito satisfeito com o resultado tanto da música quanto do clipe. O pessoal que produziu foi o mesmo da época do Marenna-Meister e também de “Hard to Say Goodbye”. A história do clipe é muito legal. Tem um casal e rola uma história entre eles, sabe? Tem um roteiro por trás para contar e ficou muito legal. Acho que tudo ficou muito bem caracterizado. A edição ficou excelente! Tenho certeza que todos vão gostar.

Gustavo Maiato: Obrigado pela entrevista. Pode deixar uma mensagem final?

Alex Meister: Esse trabalho é um reforço de tudo que já fiz antes. São as várias facetas do hard rock, só que com minha visão. Tem muita guitarra, riff, solo, refrão e vários ganchos! São músicas que ficam na cabeça, sabe? É a consolidação de toda minha carreira. Se você é fã de hard rock e se conecta com bandas como Dokken, Rat e Def Leppard, certamente vai se conectar com meu trabalho. Quem conhece meus trabalhos com o Pleasure Maker e Marenna-Meister pode ter certeza que vai encontrar a mesma assinatura, só que indo mais fundo ainda na musicalidade!

27 Set 2022

Entrevista com Alex Meister (Pleasure Maker, Marenna-Meister)

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