12/09/2022 às 20:35 Entrevistas

Entrevista: Electric Mob (Renan Zonta e Ben Hur)

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18min de leitura

Fenômeno do rock pesado nacional moderno, o Electric Mob vem conquistando fãs desde o lançamento do álbum “Discharge” (2020), pela Frontiers. Agora em 2022, enquanto prepara o segundo registro de estúdio, a banda colhe os frutos da turnê nacional que levou hits como “Devil You Know” para os palcos brasileiros.

Conversei com o vocalista Renan Zonta e o guitarrista Ben Hur Auwarter sobre o novo disco e mais uma porção de assuntos. Confira abaixo ou no vídeo ao final da matéria!

Gustavo Maiato: Vocês encerraram recentemente a turnê do álbum “Discharge” e estão quase lançando o próximo disco. O que os fãs podem esperar desse novo trabalho?

Renan Zonta: Está em pé de guerra! [risos]. Brincando! Estamos terminando alguns detalhes, já tem bastante coisa pronta. Vamos soltar algumas coisas em breve! A galera pode esperar que o Electric Mob continue sendo o Electric Mob. Ou seja, ousado, audacioso, barulhento e um pouquinho mentiroso! Está um disco bem roqueirão.

Assim como no caso do “Discharge”, esse disco novo é um reflexo do momento que estamos vivendo. De todas as experiências boas e ruins. Isso influencia. Somos uma banda que costuma trabalhar muito com as coisas que nos rodeiam.

Ben Hur: Em nenhum momento pensamos: “Ah, temos que fazer algo que soe diferente”. Claro que tem uma parte natural de mudanças, já que escrevemos música de acordo com o que estamos vivendo. Se você assistiu um filme a mais na sua vida, isso vai te influenciar de alguma forma. Mas esse raciocínio não foi pensado de maneira intencional. Basicamente, recomeçamos de onde paramos no “Discharge”. Veio do fato de nós nos juntarmos e compor.

Gustavo Maiato: Dá para adiantar o tema de algumas das letras que vocês escreveram?

Renan: Esse disco está um pouco menos festeiro e “hard roqueiro” que o “Discharge”. Até porque passamos por coisas bem mais sérias nesses últimos anos. Inconscientemente ou conscientemente, isso influenciou no processo de composição.

Não é um disco conceitual. Continuamos escrevendo sobre tudo que achamos relevante. Usamos nossas músicas como forma de discursar o que gostaríamos de falar. Muitas vezes, ficamos quietos, mas elas falam por si!

Ben Hur: O Renan escreve quase 100% das letras, mas sinto que são letras mais profundas. Não que o “Discharge” seja raso, mas o momento influenciou. Sou grande fã das letras do Renan e sinto que tem mais material, algo mais profundo, sentimental e ácido.

E como foi a turnê do “Discharge”? O que acharam da reação do público?

Ben Hur: Foi antes tarde do que mais tarde ainda! [risos]. Lançamos o álbum em 2020 achando que já íamos entrar em turnê. Isso só aconteceu em 2022. A sensação foi ótima. Nunca tinha ido para Belo Horizonte, por exemplo. Aí, chegamos lá e tinha gente cantando nossas músicas. Só isso já é emocionante. É aquele sonho de criança!

Sentir isso acontecendo é gratificante demais. Sabemos que não estamos nos ferrando sendo músico à toa. Estamos tocando a vida das pessoas. Elas estão se entretendo e divertindo. Não só naquele momento. Fazemos parte da vida de pessoas que nem conhecemos. Conseguimos chegar na casa delas de alguma forma!

Renan: Quando fechamos essa turnê, estávamos nos preparando para a estrada e procurei segurar minhas expectativas. Não sabia como ia ser exatamente, né? Tudo que vivemos foi realmente muito especial. Foram experiências que nunca tivemos antes. Vimos que nosso trabalho se reflete e importa de verdade. Isso foi sensacional.

Teve algum perrengue nessa turnê? Ou história engraçada?

Ben Hur: Nossa, teve! Aqui em casa, em Curitiba! O praticável da bateria tinha que chegar. Era o último show e pensei que tudo ia ser controlado! Poderíamos fazer a passagem de som tranquilos, sem estresse. Aí, o praticável chegou tarde! Era para ter chegado 14h30! Começamos a passar o som só depois de montar a bateria, umas 18h. Quando terminamos de passar o som, as pessoas estavam chegando. Ainda precisava passar o som da banda de abertura! Atrasou...

Renan: Em Belo Horizonte, chegamos no horário combinado, mas o evento atrasou completamente! Tivemos que passar o som muito em cima do laço. Mas nada que nunca tenhamos vivido antes. Estávamos preparados.

Ben Hur: Fora a distância do aeroporto até a cidade em Belo Horizonte! Esse custo não estava planejado e pegou a gente! [risos]. É ida e volta, né? Com 5 pessoas! Bateu um desespero. Mas já estamos calejados, sabe? Comer comida ruim, dias sem ir ao banheiro, chegar de manhã, almoçar uma maçã. Normal!

Gustavo Maiato: Voltando um pouco, vamos falar sobre o começo do Electric Mob? Como vocês se conheceram?

Renan: Eu e o Ben Hur somos de Cascavel, no interior do Paraná. Temos vários amigos em comum. Já nos conhecíamos, mas não éramos amigos. Aí, em 2016, quando o Electric Mob foi formado, o Ben Hur já morava aqui em Curitiba, mas estava em intercâmbio nos EUA com o André Leister. Eu estava de mudança de Cascavel para Curitiba. Queria montar uma banda, mas seria algo tipo: “Vou fazer uma banda de cover para ganhar dinheiro”.

Já trabalho com música bem antes do Electric Mob. Então, sabia que o Ben Hur tocava guitarra, morava em Curitiba e gostava de coisas parecidas com as que eu gosto. Ele foi a primeira pessoa que contatei. Ele topou e disse que já tinha o baterista, que era o André. Eu não conhecia o André ainda, mas eles dois estavam nos EUA.

O André topou, eles voltaram dos EUA e começamos a fazer um som junto para nos conhecer melhor. Não tínhamos baixista ainda. Fomos atrás de baixista e até pesquisamos no Facebook. Testamos alguns e chegamos no Yuri Elero. Obrigamos ele a entrar na banda! Ele não estava muito afim no começo.

Desde o começo, já tínhamos a intenção de fazer som autoral. Deixamos isso bem claro quando fomos atrás de baixista. Ele não queria justamente por isso. Ele já tinha se decepcionado com todas as bandas autorais que passou antes. Disse que não aguentava mais, que era sempre a mesma coisa: se junta, grava um negócio e a banda acaba. Ele queria tocar só cover. Falei para dar uma chance e para desespero dele começamos a compor logo em seguida! [risos]. As coisas foram tomando forma a partir daí.

Para mim, tudo aconteceu muito rápido, sabe? Tenho flashes na cabeça. A gente montando a banda, conhecendo o Yuri, ensaiando e tocando na noite e depois gravando o “Leave a Scar”, que foi o primeiro EP. Depois veio o contrato com a Frontiers e o álbum “Discharge”. Tudo muito rápido!

Gustavo Maiato: Nem teve mudança de integrante, né! Tudo muito rápido!

Ben Hur: Não deu tempo! [risos]. Tenho muito orgulho disso. Nunca demos um passo gigantesco, mas sempre estamos caminhando para frente. Um passinho de cada vez. Se patinamos, não vimos. Espero que o próximo álbum seja mais um passo para frente.

Gustavo Maiato: O primeiro EP “Leave a Scar” foi em 2017. Temos uma marca já de 5 anos! Quais lembranças vocês têm dessas primeiras composições da banda?

Ben Hur: Como não tínhamos contrato ainda, o esquema foi tipo juntar os amigos e compor. Vamos fazer um churrasco e compor? Vamos! Não tinha esse compromisso gigantesco, então foi algo espaçado. De repente, juntava uma ideia com a outra e aí de repente tínhamos quatro músicas.

Gustavo Maiato: Lembra qual foi a primeira?

Renan: A primeira foi a “Black Tide”.

Ben Hur: Isso! Veio de um riff que tínhamos. A gente fez esse riff para ser a abertura de um show. De repente, pensamos: por que não usar isso em uma música? É simples, mas muito legal. Até pensamos numa versão em português, mas não deu certo. Todas foram muito juntas, na real. Já tínhamos essas quatro músicas e fomos gravar o Ep com elas.

Gustavo Maiato: E como surgiu o contato com a Frontiers e a gravação do “Discharge”?

Renan: Lançamos o “Leave a Scar” em 2017 e no ano seguinte estávamos com outras ideias e músicas. Queríamos dar um passo, mas sendo banda independente sabíamos que não conseguiríamos a qualidade de trabalho para mostrar ao público. Seria além do nosso orçamento.

Começamos o processo de produzir um segundo EP. Quando terminamos, estávamos conversando no estúdio tentando achar uma estratégia para que esse segundo trabalho chegasse a mais gente do que o primeiro EP. Essa era uma grande preocupação nossa.

O dono do estúdio falou: por que vocês não procuram alguém para distribuir isso? Aí, pensamos que poderia ser uma boa opção. A ideia inicial era só conseguir uma playlist no Spotify. Peguei e comecei a caçar e-mail de gravadoras e selos do mundo inteiro! Do Brasil, de fora, de todo lugar!

Peguei essa relação e mandei para o Ben Hur. Ele tinha já uma apresentação da banda montada. Esse segundo EP já tinha a “Devil You Know” e o clipe já estava pronto. Tinha outras músicas que entraram no “Discharge” depois. Mandamos para todas como um tiro para o alto.

Ben Hur: Foi um período estressante em que estávamos planejando o lançamento da “Devil You Know” de maneira independente, do mesmo jeito que tínhamos lançado anteriormente.

Renan: Em uma semana, a Frontiers respondeu e já chegaram com voadora e dois pés no peito! Falaram que gostaram e querem assinar um disco cheio. Estão afim de fazer? Falaram para não lançar o segundo Ep e terminar de escrever o disco.

Ben Hur: Eles perguntaram quanto tempo queríamos para fazer o disco inteiro. Era fevereiro e nós falamos que entregaríamos no dia seguinte. Aí eles falaram: “Tá bom, em novembro eles entregam” [risos]. Aí percebemos que tínhamos que compor! O Renan um dia comentou sobre isso e é verdade!

Toda banda tem a vida inteira para compor o primeiro álbum! Agora, o segundo tem que fazer rápido! No nosso caso, o primeiro e segundo foram da mesma forma! Na base do desespero! Tinha que compor, fazer pré-produção, gravar, mixar e entregar pronto com o clipe em novembro! Foi um caos!

Gustavo Maiato: Imagino que compor com o contrato em mãos gerou uma pressão para o resultado das músicas ser melhor?

Renan: Não levamos muito por esse lado porque a Frontiers já de início deixou claro que gostavam do rumo que a banda estava tomando. Gostavam do jeito que compúnhamos.

Ben Hur: Mas tinha uma cláusula lá no primeiro contato dizendo que a banda assumia que respeita a vontade da gravadora de que tem que ser sempre mais puxado para o hard rock. Falamos tipo: “Aham, tá bom”. Em nenhum momento pensamos isso!

Renan: Foi tipo aquele “na volta a gente compra”, sabe? Bom, rolou uma pressão mais pelo tempo. Mas não nos preocupamos muito. Da mesma forma que não nos preocupamos para esse disco novo que vai sair. Simplesmente jogamos as ideias e fomos compondo tudo sem focar em um estilo específico. Depois, mandamos para os caras e vemos o que rola. Foi por aí. Para esse álbum foram 20 composições e no final ficaram 11. No “Discharge”, fizemos 15 para sobrar 11.

Gustavo Maiato: A música “Devil You Know” é o maior hit da banda. Ela foi composta no segundo EP, antes da pressão do tempo. Como foi a história desse hit?

Renan: Eu estava viciado na série “Lúcifer”, maratonando direto! Naquela época, estava muito em voga na cena do rock moderno o lance de ir para o blues rock. Tinha uma influência de The Black Keys rolando nas bandas novas. Uma pegada mais retrô, tipo blues Mississipi, misturado com riffs pesadões.

Não tínhamos feito nada parecido até então. Tive essa ideia de um riff com slide. Em uma passagem de som para um show de cover aqui em Curitiba, mostrei esse riff para a banda. O Ben Hur gostou e disse que parecia algo do Crashdiet, que tem uma ideia na mesma linha. Resolvemos não seguir a linha do Crashdiet, mas vimos que é possível misturar as coisas. Porque tínhamos medo de fazer algo muito blues rock, que fosse completamente diferente do que fazemos como banda, que é uma mistureba.

Assim, fomos desenvolvendo. Veio melodia e refrão. Temos esse lance do groove. Nada substitui um ótimo refrão, mas prezamos muito o groove. Uma coisa meio setentista. Tem que ter o balanço, fazer para dançar. Lembro que foi um momento nebuloso. Demoramos muito para chegar no resultado. A estrutura mudou muito do começo até a gravação.

Ben Hur: Parando para pensar, acho que foi a música que mais demorou para tomar forma de todas que fizemos.

Renan: Deu trabalho para caramba para mixar também. Foram muitos recalls, tinha muita coisa de arranjo. Mas foi uma música bem natural. As coisas surgiram. É louco, porque não é uma melodia que não estou acostumado a fazer. Não é um caminho que costumo seguir. Não foi inspirada em nada! A galera gostou!

Ben Hur: E sobre a produção em si do clipe e da música, tenho dicas, principalmente para quem está começando na música. Muitos apresentam o trabalho dizendo que é lançamento independente, pedindo por favor para dar uma olhada. Cara, não existe Série B! Você tem que se dedicar a fazer algo muito bem feito. Esse papo de fazer o clipe 100% independente no corre... No nosso caso, a “Devil You Know” foi assim!

Foi pago com os covers que fazíamos. Sabíamos que a produção não podia ficar mais ou menos. Não pode olhar e falar que é a banda do vizinho, sabe? Você não vai ter mais plays por pena. Tenho muito orgulho de saber que “Devil You Know” foi feito assim. Não precisa ter gravadora.

Renan: Tudo depende do objetivo. Alcançamos do jeito que dava, nos adaptamos. O que não pode acontecer é a banda ou artista apresentar o trabalho já pedindo desculpa. Isso é um problema. Falar que é independente... Ninguém precisa saber e não interessa a ninguém.

Gustavo Maiato: O Renan disse que estava vendo muito “Lúcifer” quando escreveu “Devil You Know”. A série influenciou na temática por trás da letra?

Renan: Sempre tive uma queda pelo ocultismo, desde criança. Sou fanático por filme de terror e por temas ocultos. Gosto de ler sobre, sabe? Essa série “Lúcifer” me cativou por ser algo Sessão da Tarde total, mas com um tema que a sua mãe não gostaria que você visse. É uma série para ver com o priminho!

Percebi que não tínhamos nenhuma música com letra especificamente sobre o capeta. Aí, fiz algo assim, só que na minha interpretação. De como enxergo esse misticismo que vem para mim. Ela é uma letra tipo um filme. Um personagem com características, mas é uma historinha, não sou do diabo não!

Gustavo Maiato: Você gostou do final de “Lucifer”?

Renan: Nem terminei ainda! Nem sei se quero também. Começou legal, mas depois...

Ben Hur: Também parei de assistir nas últimas temporadas!

Gustavo Maiato: Outra música que fez muito sucesso foi a “Your Ghost”. Como foi essa composição?

Ben Hur: Essa música o Renan trouxe pronta para a gente! Lembro que quando estávamos fazendo o álbum, o Yuri disse que precisávamos de uma balada. Aí, o Renan a trouxe. Na real, é uma música triste para caralho! O Yuri escutou no violão e voz e disse que nem precisava fazer arranjo. Era aquilo ali. Eu e o André tínhamos umas ideias e fomos fazendo ela crescer.

Ela é uma música que pegou muito quem é fã da banda. Seria a segunda música preferida dessa galera. Mas em termos de plays e números, temos outros sucessos. Ficou como uma joia para quem é fã. Acho que é minha preferida do álbum. Muita energia e sentimento.

Vocês lançaram muitos clipes no “Discharge”. É uma tendência no mercado da música ter muitos clipes e sempre alimentar as redes?

Renan: O Ben Hur pode falar mais da parte do business que envolve ter clipes. Como consumidor de música e audiovisual no geral, acho que quanto mais material você tiver, melhor. Se tivéssemos orçamento, faríamos um clipe para cada música. Acho que a Beyoncé fez isso.

Não só é uma tendência como uma necessidade. A galera precisa investir nisso. Estamos rodeados por vídeos em todas as plataformas. Não é só mais ouvir música. Nunca foi só isso. Sempre teve o show. A banda sempre teve uma imagem. O clipe é uma dessas coisas.

Pensando na ótima dos negócios, é interessante porque reacende a chama e você pode mostrar uma música que não teve tanto valor assim no bolo do disco, mas lançando um clipe, dá um destaque maior para uma música que você não teve oportunidade de trabalhar antes. O Guns N’ Roses fez isso. Músicas que não eram singles fizeram muito sucesso.

Um clipe é a oportunidade de o artista revelar sua interpretação sobre uma música. Uma forma de discursar, é só vantagem.

Ben Hur: O álbum é como uma fogueira. Você a deixa ali um tempo e ela vai apagando. Aí, você vai lá e bota mais lenha. Basicamente é isso. Posso estar falando besteira, mas todos os clipes do ‘Senjutsu’, do Iron Maiden, já saíram. Aí, se sair um clipe agora, todos vão voltar a escutar. Mesmo já tendo um ano, reacende! Tem gente que acha que é música nova!

Teve um exemplo que aconteceu com o Maroon 5. O álbum tinha saído há muito tempo, aí veio o clipe de “Sugar” e fez maior sucesso! Isso foi uns 6 meses depois do lançamento do disco.

Gustavo Maiato: Por falar em clipe, um que fez muito sucesso foi o “Higher Than Your Heels”, que contou com o ator Felipe Torres, que faz o Boça, do Hermes & Renato. Como foi essa experiência? Entrevistei o diretor Leo Liberti e ele disse que foi um clima bem legal!

Ben Hur: O Leo caiu de paraquedas na nossa vida! Estávamos fazendo um outro trabalho e conhecemos ele. Sabe quando a química bate? Automaticamente, começamos a soltar jargões do Boça. Alguém falou um “Meu”, aí pegou! Ficamos um final de semana inteiro soltando frases do Hermes & Renato.

Combinamos então de gravar um clipe com ele. É só assistir os últimos clipes do Megadeth para ver como o Leo é incrível. Do nada, ele disse que ia falar com o Felipe! Disse que era brother do cara e sugeriu gravar o clipe com ele. Nós ficamos tipo: “Tem como?”.

Renan: Ele sugeriu e já foi mandando WhatsApp para o cara!

Ben Hur: Ele disse que o Felipe topou. Conhecemos ele e o cara é super gente boa! O Renan estava meio star-struck!

Renan: Sim, em um momento comecei a me sentir muito desconfortável. O Felipe Torres estava lá. Um dos meus ídolos gravando para minha banda! Qualquer cidadão brasileiro que se preze que nasceu nos anos 1990 teve influência do Hermes & Renato no seu caráter! Algum impacto teve! Eu falo frases do programa no dia a dia e eu estava fazendo isso lá. Só que o cara estava lá, né! Fiquei pensando que poderia estar pegando mal!

Ele podia achar que eu estava querendo puxar o saco ou algo assim. Ele deve ouvir toda hora esses jargões. Achei que podia estar sendo meio chatão e me controlei! Mas foi legal demais, trocamos ideia nos bastidores. É tipo conhecer um jogador ou banda que você é fã. Ele realmente fez parte das nossas vidas.

Ben Hur: Ele fez parte do Electric Mob como um todo! Foi um dos primeiros assuntos entre a gente. Todos os integrantes curtiam Hermes & Renato. Ficávamos nessa conversa meio piração só com bordões aleatórios.

Renan: A influência que eles tiveram na cultura pop brasileira de forma geral é imensa. Eles revolucionaram o jeito de fazer humor na TV! Se existe Choque de Cultura hoje é por causa deles.

Gustavo Maiato: Falando um pouco sobre a sonoridade do Electric Mob. Como você definem o estilo da banda? Para onde vocês acham que o hard rock pode evoluir e como a banda se encaixa nisso?

Ben Hur: Nunca pensamos em fazer um som hard rock. Gostamos de pensar que o som está aí para quem quiser interpretar. Claro que tem uma grande estampa do estilo na gente, que é a gravadora Frontiers. Mas nosso som não é tão Frontiers. Fica na base de quem está ouvindo. Se alguém for escutar o Electric Mob achando que vai escutar uma banda de hard rock, vai se decepcionar.

Se você gosta de Journey, não tem nada! Se gosta de Guns N’ Roses, até tem um pouco, mas tem um peso do Alice in Chains. Gosto muito de grunge. Aí, o cara que é muito fã de hard rock não curte essa influência de grunge. Então, se quiser falar que é hard rock... Rock pauleira! É rock e ponto final.

Renan: Hoje em dia, é foda você falar que é uma banda de rock, porque essa frase é do Lemmy! Considero o Electric Mob uma banda de rock. Não tem muito como fugir! Não sabemos fazer outra coisa. Temos influência desde The Who até Darkthrone. Não dá para rotular.

Agora, acho que o momento atual do rock no mundo é muito fértil. Todos estão fazendo rock de uma maneira ou outra! A Demi Lovato acabou de lançar um discaço de rock! Adorei, bom demais. Todos do pop estão fazendo show com guitarra de novo, saca?

Ben Hur: Assisti a Doja Cat no Lollapalooza e os pontos altos do show eram com bateria e guitarra moendo!

Renan: Até a Anitta está usando banda. A Gloria Groove tem um discaço com guitarra para caramba. A tendência do rock hoje é se misturar mais. Eu estava vindo para o estúdio agora e vi que a Pitty lançou uma música de brega funk com guitarra. Isso é legal. Fizemos experimentações no disco novo e a tendência é se misturar.

Vemos bandas gringas que não apresentam influência do som sul-americano que misturam com coisas de lá. Tem influência de trap, bateria eletrônica. Os festivais estão misturando os artistas. Tem que sair dessa bolha de que só o rock presta!

Ben Hur: Acho que tem a questão do nome “rock”. Aí, em seguida, vem um sobrenome que é aberto a interpretação. Esse sobrenome pode datar a música. Nunca quisemos ser um revival e sim fazer nossa verdade. Vamos além do rock, escutamos de Katinguelê até Gloria Groove. Não queremos soar como uma banda dos anos 1980.

Renan: O rock é muito mais do que só uma Les Paul plugada em um Marshall, uma bateria com chimbal aberta e um cara gritando! É muito mais do que isso. Se formos analisar, “The Battle of Evermore” do Led Zeppelin não é rock, mas é rock para cacete ao mesmo tempo!

Gustavo Maiato: Vou propor um desafio: citem de 3 a 5 artistas do instrumento de vocês que mais influenciaram vocês!

Ben Hur: A primeira pessoa que preciso falar seria o Slash. Me policio muito para não ficar tão automática essa influência dele. O que é consciente é sempre fugindo disso. Tipo: como seria um filhote do Slash com o Tom Morello? Daí pode sair um raciocínio de como levar uma música.

Não temos como levar uma música com o Guns N’ Roses levava, por causa das duas guitarras. O arranjo fica diferente. Penso em como o Morello levaria. Gosto muito também do Richie Sambora, do Bon Jovi. A parte mais do blues da mão direita mais swingada. O Stevie Ray Vaughan é outro que me influência. Mais porque acho legal, porque tocar parecido... Meu deus! Se você escutar bem, vai perceber que tem um pouquinho dele nas nossas músicas. O outro seria o Ace Frehley. O que nos une é porque eu e ele somos ruins na guitarra! [risos].

Você não precisa ter uma técnica absurda e sim executar da melhor forma. O Ace está aí para provar isso! Um dos guitarristas mais influentes da história. Não precisa impressionar com sua habilidade. Você precisa impressionar no palco, fazendo um grande show. Ninguém fez melhor isso do que o Kiss.

Gustavo Maiato: Algum artista brasileiro te influenciou?

Ben Hur: Cara, no tipo de som que faço, não. Nunca tive, talvez por ignorância. Agora, estou acompanhando muito de perto o Jean Patton, do Project 46. Ele é um cara da correria e dá para se inspirar. Em como fazer acontecer as coisas, sabe? A parte do business.

Gustavo Maiato: E você, Renan?

Renan: Meu Top 3 é muito definitivo, mas o Top 5 fica complicado! Quem me fez querer cantar foi o David Coverdale. Deus, todo poderoso! Em segundo lugar, o Dio. E em terceiro, Paul Rodgers. Ele foi uma das últimas influências que me descobri.

Eu ouvi muito Whitesnake, Deep Purple e as coisas do Coverdale solo, e gostava muito de Free e Bad Company desde moleque. Nunca tinha parado para pensar que o Coverdale é um filhotinho do Paul Rodgers! O jeito de fazer as frases, cantar, se portar no palco. É uma grande influência para mim.

Em quarto, coloco o Ray Gillen, que é uma grande influência. Muito pelo corre do cara. Ele fez as coisas muito jovem e trouxe o lance da raiz vocal do rock para uma época em que isso já havia sido esquecido. Em quinto, vou botar duas pessoas! Stevie Wonder e Etta James. Agora, sobre alguém brasileiro, seria o José Rico!

Poderia fazer um Top 5 só de sertanejo brasileiro! Eu e o Ben-Hur, quando nos juntamos para não falar de trabalho, sempre estamos ouvindo sertanejo! Somos felizes assim. No disco novo, fizemos uma festinha e ficamos analisando segundas vozes levemente alcoolizados.

Ben Hur: O Zezé Di Camargo é o Bon Jovi brasileiro!

Gustavo Maiato: Essas influências estarão no próximo disco?

Renan: Tivemos muita influência de coisas recentes que estarão no disco! Acho que mais do que essas do coração. Temos ouvido muita coisa moderna, que saem agora. Estamos sempre apresentando artistas um para o outro. Tipo o pessoal do pop e trap. Mas não vai ter trap no disco! [risos].


12 Set 2022

Entrevista: Electric Mob (Renan Zonta e Ben Hur)

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