04/08/2022 às 19:14 Entrevistas

Entrevista com Robb Flynn (Machine Head)

193
6min de leitura

O Machine Head é um dos grandes nomes de sua geração e está de volta com o lançamento do álbum conceitual “Øf Kingdøm and Crøwn”. Conversei com o guitarrista e vocalista Robb Flynn a respeito das novas músicas e também sobre Pantera, Spotify e shows no Brasil. Confira abaixo!

O novo álbum “Øf Kingdøm and Crøwn” começa com a música “Slaughter the Martyr” e seus 10 minutos de duração. Isso por si já é bastante impactante. Como se deu a escolha desse hit para abrir o tracklist?

Pois é! Temos essa tradição de abrir nossos álbuns com músicas longas. Isso aconteceu no “The Blackening” (Obs: “Clenching the Fists of Dissent"). Dessa vez, resolvemos contar uma história e baseamos tudo pensando nessa história. Se passa em um futuro em que o céu sempre é vermelho. São dois personagens: um se chama Ares, que perde o amor de sua vida, chamado Ametista. Ele vai em uma cruzada para matar as pessoas que a mataram.

Já o personagem dois é o Eros. Ele perde a mãe em uma overdose de drogas. Ele começa uma espiral negativa e acaba se aliando com um líder carismático. Na verdade, ele faz parte justamente do grupo que matou a Ametista. Essa faixa de abertura é a história de origem do personagem um. Ele perde o amor de sua vida e está muito mal, sedento por vingança. Ele está com muito ódio e é a partir daí que tudo se desenrola.

Por que os títulos das músicas são grifados com o símbolo de “vazio” ao invés da letra “O”? Qual conceito por trás?

Foi só uma escolha estética.

Podemos traçar um paralelo entre a história que você criou para o álbum com algum filme, série ou livro que já exista na cultura pop? Algo te inspirou?

Não teve nenhuma outra história que me inspirou. Sempre quis compor um álbum conceitual. Quando comecei a pensar no roteiro, vi que seria uma típica história americana do tipo: tem o bonzinho e o malvado. Aí o bonzinho vence. Não pensei conexões com outras coisas.

Agora, isso foi durante a pandemia. Meus filhos, que são adolescentes, assistem muito anime. Eu era um nerd do anime! Tudo começou com Star Wars, aí foi evoluindo. Fiquei assistindo as coisas que meus filhos gostavam. Era algo tão moderno, sabe? Eu conheço mais Akira e essas coisas dos anos 1990. Resolvi assistir junto e comecei a gostar muito do Attack on Titans. Diferente das histórias normais de anime, existem personagens dos dois lados, mas os dois acreditam que estão fazendo o bem. Mas os dois na verdade estão cometendo atrocidades.

Esse conceito me inspirou. Já compus 9 discos pelas lentes dos meus olhos, sabe? Sobre coisas que vivi e como enxergo a sociedade. Agora, precisei compor pelos olhos de não só um personagem, mas dois deles! Tentei fazer a história acontecer e acho que o disco ficou mais emotivo e intenso!

Tem algum personagem dessas histórias de anime que você se identifique mais?

Não costumo pensar dessa forma, sabe? Apenas acompanho a história. Não sou tipo: “Esse aí sou eu!” Não assisto Star Wars pensando: “Sou o Han Solo!”

Na música “Chøke øn the Ashes øf Yøur Hate”, você fala sobre revoltas contra o sistema. Dá para fazer um paralelo com a vida real?

Não tem paralelo aí. A história acontece em um futuro. Anote aí: vão ter revoltas no futuro! Tentei deixar tudo o menos datado possível.

A música “Unhalløwed” é mais emotiva e fala sobre uma jornada para superar uma dor. Essa letra é de alguma forma pessoal?

Essa música acontece logo depois que a mãe do Eros morre de overdose de drogas. Ele está em uma espiral negativa e com pensamentos suicidas. Bem deprimido. Ele quer sair dessa. Entendo o que você quer dizer com “emotiva” e para mim realmente precisei me conectar com meus sentimentos para compor.

Não dava apenas para contar a história. As letras precisam contar. Esse foi provavelmente o grande desafio do álbum: escrevi várias letras bacanas, mas quando fui cantar... Não consegui me conectar. Preciso que as letras se conectem comigo. Precisei reescrever algumas vezes.

Como foi a divisão das guitarras nesse novo álbum entre você e o Wacław Kiełtyka? O que você tem a dizer sobre o trabalho de guitarra do disco?

Acho que sou um guitarrista versátil. Toco as partes rítmicas na maioria dos álbuns. Toco a parte esquerda e direita e ainda refaço, porque gravamos duas vezes as guitarras. Todas as harmonias também sou eu quem faço. Agora, na parte dos solos, faço provavelmente metade deles em cada disco do Machine Head.

Depois, deixo o outro guitarrista fazer o resto. Ou tocamos o mesmo solo em harmonia. Às vezes, o outro guitarrista diz: “Faz você o solo!”. Nesse disco, fiz todos os solos em “Arrøws in Wørds frøm the Sky”. Nas outras músicas, fomos revezando: fiz o primeiro ou o segundo. Sempre foi dessa forma.

Acho que quando o Machine Head começou, não éramos muito ligados em solos. No primeiro disco – “Burn My Eyes” – algumas músicas nem têm solo! Nessa época, queríamos compor músicas mais pelo riff. Eu via muitas bandas fazendo solos de guitarra imensos e queria ir na contramão. Queríamos que nossos solos fosse mais tipo Slayer – com novas dissonantes e estranhas. Com a evolução da banda, essa questão dos solos acabou surgindo.

O álbum “The Blackening” está completando 15 anos agora. Se compararmos com “Burn My Eyes”, você acha que os dois são igualmente importantes? Como eles se enquadram na discografia do Machine Head?

Não sei se consigo ver um disco como mais importante do que o outro. Tenho orgulho de todo álbum que lançamos. Acho que todo disco é um passo para frente, sabe? Se não fosse pelo “The Burning Red”, não teria uma música como “Descend the Shades of Night”. Se não fosse por “Descend...”, não haveria uma música como “Darkness Within”. Entendeu? Se não fosse uma música como “Blood For Blood”, não haveria “Chøke øn the Ashes øf Yøur Hate” ...

Sempre que você avança um pouco, uma porta se abre e você percebe: “Olha, posso fazer isso agora!” Você não percebe que pode fazer as coisas até dar esse primeiro passo. Sempre pensei que se você analisar nossa discografia, dá para notar uma evolução. Tem músicas dos discos antigos que permitiram que músicas mais para frente existissem.

A música com maior número de reproduções no Spotify do Machine Head é o hit “Is There Anybody Out There?”. Por que você acha que essa canção caiu tanto no gosto dos fãs? Já são 65 milhões de streamings!

É um baita resultado! É louco se você parar para pensar, porque nem está em um álbum. É uma música que saiu sozinha. Acho que deu certo porque ela saiu na hora certa. O mundo estava passando por um monte de merda. Essa música tocou nessa ferida. Agora, muito do sucesso vem dessa questão dos algoritmos do Spotify, sabe? Tipo, se você analisar o “Top 10” dos Beatles no Spotify em primeiro lugar está “Here Comes The Sun”. Tipo, sério isso? De alguma forma, os algoritmos intercederam aí.

Acho que tem a ver com as playlists também. Eu amo o Spotify, mas não acho que ele seja uma representação verdadeira do que a base de fã do Machine Head ouve. Não tem nenhuma música do “The Blackening” entre as mais ouvidas! Poxa, algoritmo do Spotify... Isso não está nada certo!

Mas claro que amo o Spotify. Imagina ficar carregando uma caixa cheia de CDs. Ficar tomando cuidado para não arranhar e não quebrar nada. Aí você está bêbado e pode dar merda! Eu ouço música no YouTube, Apple Music e Spotify, porque estou sempre viajando.

Qual sua expectativa para o retorno do Pantera com o novo line-up?

Acho que vai ser ótimo para os fãs. Se você nasceu em 1999 – dois anos antes do Pantera terminar na época -, você vai poder ouvir essas músicas ao vivo. Isso é ótimo para os fãs.

Você tem planos para vir ao Brasil?

Sim! Agora vamos fazer uma turnê pela Europa com o Amon Amarth. Depois, vamos para os EUA. Meu objetivo é conseguir visitar a América do Sul em janeiro ou fevereiro! Talvez ir ao Japão também. Preciso do promoter certo para isso! Na última vez que fomos, fizemos apenas um show no Brasil! Fiquei chateado com isso. Nunca tocamos no Rio de Janeiro, por exemplo. Quero tocar na Argentina, Uruguai, Colômbia. Gostaria de ir na Costa Rica e Equador. Muitos amigos dizem que Quito é legal e nunca fomos.

04 Ago 2022

Entrevista com Robb Flynn (Machine Head)

Comentar
Facebook
WhatsApp
LinkedIn
Twitter
Copiar URL

Tags

machine head robb flynn

Quem viu também curtiu

23 de Jun de 2021

“Foi o Sid Vicious quem me inspirou a criar o Helloween e o power metal!” – Entrevista com Michael Weikath (Helloween)

20 de Abr de 2022

Entrevista: Timo Tolkki (ex-Stratovarius) fala sobre "Visions", Andre Matos e mais

20 de Ago de 2022

Entrevista com Júlio Ettore - Rock Nacional 1980