Fabio Lione é uma das vozes mais importantes (e coringas) do heavy metal. Depois de fazer história com o Rhapsody of Fire e Angra, o vocalista italiano se aliou com o guitarrista Marcelo Barbosa para uma série de shows no formato acústico – nesse período ainda turbulento de final de pandemia.
Conversei com o vocalista sobre esse novo formato de show e também sobre os 20 anos do “Rebirth” – disco do Angra que ele quase compôs, e também os 25 anos do Rhapsody of Fire, completos ano que vem. Boa leitura!
Gustavo Maiato: Obrigado pela entrevista! Você acabou de anunciar um show em formato acústico com Marcelo Barbosa tocando clássicos do Angra, Rhapsody e outros. Como foi o processo de escolha das músicas e qual foi o maior desafio em tocar esses clássicos do power metal em uma versão acústica?
Fabio Lione: Claro que é diferente quando você tem que tocar algumas músicas rápidas em versão acústica, é um sentimento e abordagem diferentes, mas o refrão, as linhas vocais e os riffs / acordes de guitarra são os mesmos, então você pode ter um ótimo resultado de qualquer maneira.
Em geral, temos vários sets para essa turnê e não apenas algumas músicas de power metal, temos muitos clássicos do rock que tenho certeza que as pessoas vão adorar, além de músicas de Angra e Rhapsody, tenho certeza que as pessoas vão se surpreender!
Gustavo Maiato: Estamos quase saindo da pandemia. Nesse período, os artistas precisaram ficar afastados dos fãs e dos palcos. Como você lidou com essa situação e qual a sensação de finalmente voltar aos palcos?
Fabio Lione: Bem, preciso dizer que não é a melhor situação. Foi estranho e claro que todo esse tempo não foi fácil para todos os músicos e para as pessoas que trabalham com música / shows etc. Pessoalmente, eu estava gravando muitas coisas, escrevendo ideias e, em geral, cuidando de muitas coisas.
Agora, ao que parece, estamos finalmente "perto" de uma situação normal de novo e é tão estranho ser um músico sem shows ao vivo, isso era algo que estava faltando muito, era como se uma parte de você estivesse faltando.
Gustavo Maiato: Como surgiu a ideia para realizar essa série de shows acústicos? Qual música ficou mais diferente da original?
Fabio Lione: Eu estava conversando com o Paulo Baron sobre música, ideias e mandei pra ele uns covers que fiz... Então um dia ele me propôs a ideia de fazer uns shows com Rock Classics e músicas das minhas bandas.
Eu gostei da ideia e só precisava pensar em um possível set list e um guitarrista para estar comigo, quase imediatamente pensamos no Marcelo Barbosa para esses shows. É uma abordagem diferente quando você tem que tocar uma música em formato acústico, nós temos algumas músicas rápidas que vão soar diferentes, é claro, se você compará-las com o CD e isso também é bom porque o resultado é mais interessante.
Gustavo Maiato: Ao longo de sua carreira, você já cantou com excelentes guitarristas. Qual a principal diferença entre tocar com o Kiko Loureiro e o Luca Turilli?
Fabio Lione: Não sei, o Luca é um ótimo guitarrista, tecladista / pianista, compositor etc. Gosto da maneira como ele fica no palco também, ele se move muito. Em geral, é um músico a 360 graus.
O Kiko tem um toque incrível na guitarra e ele é um ótimo compositor também, é apenas diferente, ambos têm um estilo e presença únicos e ambos são capazes de fazer a diferença em uma banda.
Gustavo Maiato: O Angra está comemorando 30 anos de carreira. Você se lembra qual foi a primeira vez que ouviu a banda? Qual foi a sensação?
Fabio Lione: Mmmm, provavelmente foi com “Angels Cry”, eu acho que em '93 ou '94, mas eu estava ouvindo mais a banda na época do “Holy Land”, quando eu também conheci bem o Andre Matos. Lembro que fiquei surpreso com a voz dele, delicada e pessoal, e depois com as músicas, bons riffs de guitarra, solos e algumas músicas bem legais.
Gustavo Maiato: Falando em datas comemorativas, esse ano comemoramos 20 anos do "Rebirth". Qual sua relação com esse álbum?
Fabio Lione: Bem, essa é uma ótima pergunta, o álbum que eu deveria cantar e compor, mas eu não o fiz! (risos) Ainda me lembro quando estava conversando com Kiko e Rafael Bittencourt no Brasil depois de um show que fiz no Via Funchal.
Eles me perguntaram se eu tinha interesse em fazer parte da banda e fazer esse disco juntos. Na época eles já tinham em mente o nome do disco e algumas coisas gravadas. A proposta era tipo "fazemos 12 músicas, 4 cada um por exemplo ou juntos... o que você acha?”.
Eu realmente gostei da proposta, dos caras e da banda, mas é claro que eu estava meio ocupado com Rhapsody, Vision Divine etc. Quer dizer, eu sugeri que eles tornassem as coisas mais fáceis, pegando um brasileiro não tão ocupado e que trabalhe duro naquele disco e eles conseguiram!
O resultado do trabalho deles foi um disco muito bom com algumas músicas muito boas e isso foi muito importante para a banda pois foi um momento particular e importante na história desta banda!
Gustavo Maiato: Ano que vem completam 25 anos desde o lançamento de "Legendary Tales", disco de estreia do Rhapsody. Poderia contar um pouco como foi sua entrada na banda e quais memórias você tem desse disco?
Fabio Lione: Bem, acho que Sascha Paeth e o Luca Turilli estavam ouvindo meu primeiro disco e e recebi uma ligação do empresário da banda, o Limb. A princípio fiquei surpreso, ele perguntou se eu queria ir para a Alemanha e cantar para uma banda italiana que estava prestes a lançar o primeiro disco.
Eu pedi para ele ouvir uma coisa e ele me mandou duas fitas (risos)! Eu imediatamente entendi que essa banda tinha algo único no estilo de composição e havia algo diferente em comparação com as outras bandas, mas também entendi que eles precisavam de algo não realmente "normal" em relação aos vocais.
Então peguei o trem e fui encontrar os caras pela primeira vez. Depois de 1 semana e muitas dores de cabeça consegui terminar meus vocais! (risos) E tenho que agradecer muito ao Sascha, porque ele me ajudou muito nisso tempo, considerando que foi meu segundo disco gravado, acho que fiz um trabalho muito bom e a banda foi capaz de lançar um álbum de estreia perfeito!
Gustavo Maiato: Você é famoso por ser um cantor versátil, que consegue cantar como um verdadeiro tenor de ópera e também de outras formas. Qual dica você daria para quem está começando a estudar canto e quer cantar como você?
Fabio Lione: Devo dizer que como você deve saber, não estudei muito na minha vida. Fiz onze aulas de ópera com meu antigo e único professor Bruce Borrini e é isso praticamente. Em geral, acho que você tem duas opções: ou estudo ou ganha experiência.
Se você conseguir combiná-los é ainda melhor. Depois de alguns anos você conhece melhor sua voz, você tem uma ideia mais clara do que significa cantar, ou estar no palco, fazer uma turnê, trabalhar em um estúdio etc.
No meu caso acho que tenho um "toque de ópera" natural na voz, com todas as notas de um tenor e todas as notas de um barítono praticamente, então posso realmente fazer muitas coisas e também o volume da minha voz não é realmente "normal", digamos.
Depois de algumas experiências com bandas diferentes aprendi a cantar com uma voz limpa e suja e também gosto de experimentar muito. Então provavelmente eu não sou o cara certo para falar sobre aulas ou dar sugestões, porque meu tipo de voz não é realmente "normal" digamos, mas é claro que estudar muito e ter experiência no palco e no estúdio é algo muito importante para cada cantor ou todos que querem cantar.
Gustavo Maiato: Por favor, deixe uma mensagem final para seus fãs no Brasil! Obrigado!!!
Fabio Lione: Em breve iremos arrasar juntos meus amigos! Temos algumas surpresas nos shows e tenho certeza que todos vamos nos divertir muito! Um grande abraço a todos vocês!