Leonardo da Vinci dizia que o ódio revela muita coisa que permanece oculta ao amor. Com treze faixas compostas com os olhos cheios de raiva, “Perpetual Chaos” , novo disco da Nervosa, é uma tempestade sonora sem direito à silêncio predecessor.
É uma explosão que nos conduz ao caos perpétuo, que nos conecta com sentimentos intensos e pesados que só uma convalescência pós-pandêmica pode proporcionar. De fato, dá acesso a lugares que, na base do amor, não teríamos condições de conhecer.
A recente reestruturação da banda trazia um quê de mistérios: para onde a Nervosa iria? Os vocais de Diva Satânica protagonizando versos de pura desordem mostraram que a banda ressurgiu ainda mais forte depois de ser cortada ao meio na abrupta separação de suas integrantes.
Logo no começo, “Guided By Evil” explica que “o mal é paciente, está esperando até o fim”. A frase dá o tom de desesperança misturado com a raiva propulsora, típico em bandas de thrash metal.
A força que impulsiona a Nervosa para frente pode ser colhida facilmente nas ruas desse Brasil. Títulos como “Under Ruins” e “Godless Prisoner” remetem a um estado decadente tanto interno quanto externo, mas pedem socorro, sem orgulho:
“Me salve. Me ajude. Não me deixe morrer nas ruas. Uma criança sem-teto está condenada”.
Pensado para ser apreciado justamente nos momentos de inquietação, “Perpetual Chaos” é um aliado para as horas mais escuras. As músicas, com boa dinâmica, privilegiam o refrão mais fácil, daqueles que parece que você já ouviu antes.
“People of the Abyss” é um exemplo onde os riffs de Prika Amaral servem de background para o astro principal brilhar. Ou seja, o embalo das melodias de Diva, que parecem casar felizes para sempre com essa proposta anárquica de perturbação.
Por fim, “Perpetual Chaos” prova que a Nervosa está em plena forma, abraçando esse lado escuro e questionador da força, revelando para nós, meros ouvintes, facetas que, talvez, não estejamos preparados para suportar.