15/12/2020 às 20:43 Entrevistas

Entrevista com Michele Guaitoli, do Temperance: ‘o coronavírus está punindo a humanidade da maneira errada!'

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Consolidado como um dos três vocalistas do Temperance – um dos mais promissores nomes do Metal italiano, Michele Guaitoli estreou com o pé direito na banda, no disco 'Of Jupiter And Moons' (2018).  Em 2020, veio o lançamento do versátil disco ‘Viridian’, que saiu pela Napalm Records.

Em um bate papo exclusivo aqui para o site, o músico revelou um pouco sobre o processo criativo do Temperance e comentou sobre sua entrada, bem como o ingresso da vocalista Alessia Scolletti.

Michele comentou também acerca de sua religiosidade e a sua visão sobre como o novo coronavírus está afetando a humanidade! Confira abaixo!

Entrevista com Michele Guaitoli, vocalista do Temperance

Gustavo Maiato:  Vocês acabaram de lançar o novo álbum ‘Viridian’. Percebi muitas influencias diferentes como Folk Metal, Power Metal e até Gospel! Como foi o processo de compor esse disco e como você vê a evolução da banda em relação ao trabalho anterior ‘Of Jupiter And Moons’?

Michele Guaitoli: A grande diferença foi que dessa vez nós tivemos mais tempo para a pré-produção. O disco anterior foi marcado por muitas mudanças. Eu e a Alessia (Scolletti, vocalista) entramos e o baterista Alfonso Mocerino virou membro efetivo.

No caso do ‘Of Jupiter...’, o Marco (Pastorino, vocalista e guitarrista) já tinha todas as músicas praticamente prontas quando a nova formação se estabeleceu. Tivemos apenas dois meses para preparar letras, arranjos e gravar. Agora com ‘Viridian’, tivemos mais tempo.

Gustavo Maiato: As capas dos discos do Temperance sempre trazem uma esfera como elemento principal. Qual o significado dessa figura para a banda e o que você pode nos contar sobre o anjo com asas de metal que também aparece na capa?

Michele: Essa é a forma da Terra e da maioria dos planetas. Nossos discos sempre envolvem conceitos que estão conectados à planetas. Muitos títulos trazem essa referência como ‘The Earth Embraces Us All’, 'Of Jupiter And Moons’ e até mesmo no caso de ‘Viridian’.

Para quem não sabe, ‘viridian’ é um pigmento azul e verde, para nós significa a conexão entre o mar e a natureza. O anjo é uma espécie de divindade observando essa esfera verde que contém a própria Terra.

Gustavo Maiato: As melhores músicas do disco para mim são as da segunda metade. ‘Nanook’ tem o mesmo nome do Mestre dos Ursos da mitologia Inuíte, uma tribo de esquimós do ártico. Como surgiu a ideia dessa música?

Michele: Essa é uma história interessante. Todo mundo que comenta sobre essa música tem uma interpretação diferente. Nós escutamos algumas lendas sobre esquimós, mas para ser honesto, a letra dessa música não tem inspiração nesses contos.

A Alessia escreveu essa história, sem nenhuma inspiração de algo externo. Isso aconteceu também no caso do conto de ‘Of Jupiter And Moons’ e em outras faixas. Então o Mestre dos Ursos não está envolvido aqui, mas nós definitivamente vamos procurar saber mais sobre essa história!

Gustavo Maiato: Na música ‘Gaia’, a letra é um pedido de perdão para a Mãe Natureza, já que a humanidade vem constantemente destruindo o Planeta Terra. Em um ano marcado pela pandemia do novo coronavírus, você acha que nosso planeta não ouviu o pedido de perdão?

Michele: Essa é uma boa pergunta. É difícil de dizer se esse vírus é uma maneira que o planeta arranjou para lutar contra a gente. É claro que certamente estamos destruindo o meio ambiente, quem não vê isso é cego.

Mas verdade seja dita, o vírus está punindo a humanidade da maneira errada, porque os mais afetados são os idosos e pessoas que já têm outras doenças. Ao mesmo tempo, o vírus está impedindo várias atividades econômicas, mas as indústrias continuam trabalhando intensamente, a poluição não diminuiu.

Mesmo que seja interessante pensar nessa conspiração da Mãe Natureza, não está funcionando! Para fazer diferença, nós todos precisamos mudar. Os mais jovens precisam mudar, as gerações futuras enfrentarão problemas muito mais sérios do que enfrentamos hoje em dia

Gustavo Maiato: A música ‘Catch The Dream’ tem um pequeno coral gospel e até palmas! É bem diferente das outras faixas. Essa música quase foi excluída do disco, certo? Como foi essa história?

Michele: Essa música não estava incluída na pré-produção. Foi a primeira música escrita por mim e pelo Marco em conjunto. Nós estávamos trabalhando em outra música que acabou excluída do disco. Essa música tinha um coral gospel e nós resolvemos separar esse trecho e incluir no álbum como uma faixa separada!

Gustavo Maiato: O disco tem uma música de Natal chamada ‘Lost In The Christmas Dream'. Vocês são da Itália, um país conhecido por sua religiosidade. De que forma a religião e o Natal são temas importantes para você?

Michele: Realmente a religião é algo bem forte na Itália, mas nenhum de nós do Temperance é um devoto nem nada. O Natal vai além da religião, tem a ver com acreditar em um bem maior, é uma data que esperamos ansiosos todo ano.

A atmosfera que você respira no Natal é maravilhosa, é um período de positividade. Todos parecem se tornar pessoas melhores, mais generosas e dispostas a ajudar. É essa vibe que nós queremos passar com essa música.

Gustavo Maiato: Você e Alessia Scolletti assumiram os vocais junto com Marco Pastorino em ‘Of Jupiter And Moons’ e agora ‘Viridian’ marca o segundo trabalho com essa formação. Falando sobre Alessia, como você acha que a voz dela se encaixou na banda?

Michele: Mudou muita coisa. Ela é uma cantora moderna com influências de AOR. É uma voz única que pode cantar desde Symphonic Metal até Hard Rock. Isso abriu muitas possibilidades em termos de estilo.

Além disso, com a minha entrada e a dela, a estrutura dos vocalistas mudou. Antes a cantora principal era a Chiara (Tricarico) e o Marco apenas dava um suporte nos back vocals. Agora, nós somos três cantores principais, não tem mais cantor principal. O Temperance é único nesse sentido.

Gustavo Maiato: Quando eu escuto o Temperance, eu vejo um pouco da vibe do Amaranthe. Ambas as bandas têm músicas positivas e com três vocalistas no line-up. O que você acha dessa comparação? Eu acho que vocês possuem outras influências, mas de qualquer forma guarda uma certa semelhança...

Michele: O Amaranthe certamente é uma das nossas influências. Algumas músicas realmente são parecidas. Eles são bem modernos e misturam música eletrônica com Metal. Nós amamos experimentar, então temos faixas mais sinfônicas, outras mais Hard Rock, outras com influência mais Heavy. Apenas algumas faixas como ‘Mission Impossible’ possuem essa influência eletrônica.

Nesse caso sim, a semelhança com o Amaranthe existe. Mas é errado dizer que somos parecidos com eles porque isso se aplica apenas em algumas músicas. Ninguém diz isso se ouvir, por exemplo, ‘Daruma´s Eyes’.

Gustavo Maiato: O nome da banda é inspirado em uma das virtudes cardinais, justamente a virtude da ‘temperança’. Tem a ver com ser mestre de si mesmo e dominar seus desejos e impulsos. Como essa definição dialoga com a mensagem que a banda quer passar?

Michele: É um conceito que nós abraçamos, por isso esse nome foi escolhido lá atrás. Controlar seus desejos e saber lidar com sua energia interna pode fazer uma grande diferença na sua vida. Viver equilibrando suas emoções de uma maneira saudável evita o stress, além de se tornar uma fonte de positividade para todos ao redor. Essa é a mensagem que nós queremos levar com nossas musicas.

Gustavo Maiato: Em 2017, o Temperance lançou o DVD ‘Maschere – A Night at the Theater’. Na época, você e Alessia não faziam parte da banda ainda, mas cantaram no coral que acompanhou o Temperance naquele show. Como foi essa experiência?

Michele: O DVD foi um evento único e especial. Eu e Alessia fazíamos parte de um pequeno coral que cantou junto com a banda. Também havia um quarteto de cordas, foi muito bonito. Esse DVD se tornou um dos artigos mais vendidos do nosso catálogo!

Gustavo Maiato: Por favor, deixe uma mensagem final para os fãs do Temperance aqui no Brasil!

Michele: Nós queremos muito um dia tocar no Brasil! Infelizmente o universo ainda não conspirou para isso, por várias razões.

Assim que essa merda desse coronavírus for embora nós faremos o nosso melhor para conseguir fazer uma turnê aí. Por enquanto, vocês podem continuar nos apoiando no Spotify, YouTube etc.

Eu sei que existe muita gente no Brasil que ouve o Temperance e nós não vamos ignorar vocês, um dia nós vamos nos apresentar aí, continuem nos apoiando e obrigado!

15 Dez 2020

Entrevista com Michele Guaitoli, do Temperance: ‘o coronavírus está punindo a humanidade da maneira errada!'

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