26/06/2024 às 14:47 Entrevistas

Entrevista com Kiko Loureiro (ex-Angra, ex-Megadeth)

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7min de leitura

Você está no Brasil para uma série de shows em várias cidades, com integrantes do Angra e Alírio Netto nos vocais. Como você escolheu a banda de apoio? Quais foram os critérios para essa seleção?

Estou vindo para o Brasil. A banda é o Felipe Andreoli e o Bruno Valverde. O Felipe conheci na época do ‘Rebirth’, do Angra, já tenho essa amizade há mais de 20 anos. Ele gravou meus álbuns solo, então conhece as músicas. Fizemos shows desse projeto por anos. Foi uma escolha óbvia. O Bruno conheci tocando minhas músicas, depois aconselhei ele para o Angra. O Luiz Rodrigues faz a segunda guitarra, conheci na internet também e vi o talento dele. Morando fora, foi dessa forma. Agora, o Alírio Netto, acompanhei desde sempre. Quando lancei meu álbum instrumental ‘Open Source’, chamei ele para cantar uma, que queria algumas versões com participações de cantores. Foi durante a pandemia. Ele cantou a ‘Du Monde’ e ficou muito boa. Acompanho as coisas que ele faz, na carreira solo. Vi também uns trechos de uma live do Shaman nessa volta durante a pandemia. Tenho amizade com ele faz tempo. Curto o trabalho dele no Queen Extravaganza e peguei até aulas de canto com ele. Tenho uma proximidade e cabe perfeitamente. Ele tem voz e conhecimento. Chamei antes de saber o que ia tocar, porque sabia que ele corresponderia se eu decidisse tocar cover do Angra.

No Best of Blues and Rock, você dividiu o palco com lendas da guitarra como Zakk Wylde. Qual sua opinião sobre ele?

O Best of Blues foi muito legal. Adorei trocar uma ideia com o Zakk Wylde no camarim. Conversei com a banda dele. Sou fã dele, tenho mais proximidade musical. Sigo e acompanho há tempos e fizemos turnês juntos em outros momentos, com o Megadeth. Passei anos tendo o mesmo técnico de guitarra dele! Então, temos várias histórias em comum. Isso nos aproximou.

O novo guitarrista do Megadeth, Teemu Mäntysaari, foi uma indicação sua. Qual foi o conselho mais valioso que você deu a ele?

O novo guitarrista do Megadeth foi uma indicação minha. O Teemu é da Finlândia e como moro lá achei que era mais fácil ter um cara ali para encontrar e passar os esquemas. Em termos de conselho valioso? Passei tudo que eu sabia, para a transição ser a mais tranquila possível. Tenho uma mentoria, então estou acostumado a mostrar os caminhos e mostrar o que realmente importa, não só na parte de tocar, mas na pessoal e performance no palco. Posicionamento, uma série de coisas que faço na mentoria.

O Angra comemora 20 anos do álbum "Temple of Shadows" em 2024. O que você acha de participar de um show comemorativo da banda? Quais músicas desse disco são suas favoritas e por quê, agora que já se passaram tantos anos?

Sobre show de comemoração dos 20 anos do ‘Temple of Shadows’, não estou seguindo muito de perto. Talvez participar, mas não sei ainda. Moro fora, né? Então não sei sobre isso. Agora, sobre minhas músicas favoritas, gosto muito do álbum no geral. É difícil falar de favoritas, tem partes que acho legal, que a galera mais curtiu. Gosto das que não tocamos muito também, que penso que poderíamos ter tocado mais. Não tenho uma predileção. Talvez, se fosse escolher, seria a ‘Gate XIII’, porque fiz o arranjo orquestral. Aquilo foi um desafio para mim. Fiz primeiro no piano, juntando as melodias e as passagens. Depois, fiz um trabalho em MIDI. Fui com o Miro, que tinha uns samplers caros. Ele finalizou. Tem um gosto especial. Todos têm participação como compositores, porque peguei trechos de várias músicas, mas o arranjo e a orquestração me deixaram felizes de ter feito. Penso: ‘Por que não faço mais esse tipo de coisa?’.

Você está mostrando o Brasil para sua família finlandesa. O que eles estão achando do país? Tem alguma curiosidade interessante para compartilhar sobre essa experiência?

Eu já estou no Brasil e minha família está aqui. Fiz show no Rio e toquei num evento corporativo em Brasília. Vou para o Rio de novo dar um rolê. Quero mostrar o Brasil como ele é. Que conhecemos muito bem. A cultura, comida, música e pessoas. Quero fazer turismo nas praias do Rio, mas o grande lance é mostrar a cultura. Como as pessoas são? Como elas interagem? Como conversam? Quero mostrar as cores e árvores. Pode ser a padaria da esquina, a coxinha e o pão de queijo e o açaí com cupuaçu. Coisas normais para a gente. A confusão, bagunça e quantidade de pessoas. O inverno quente! Meus filhos falam: ‘Isso é verão, né? O mais quente da Finlândia é o inverno do Brasil! Só isso já deixa eles malucos [risos].

Você tem um trabalho de mentoria para guitarristas. Quais são os erros mais comuns que você observa nos seus alunos? Quais são os principais desafios que eles enfrentam no caminho para o sucesso?

O lance da mentoria é algo um a um. Pode ser um guitarrista que tenha uma carreira e está buscando sacadas que o ajude a encontrar um caminho melhor para chegar mais rápido nos resultados. Acontece, e tem vários, que são profissionais de outras áreas, que tocam guitarra, com estúdio em casa, mas param por aí. Meu trabalho é fazer esse pessoal lançar uma música com o nome dela no Spotify. Tenho até uma playlist com esses lançamentos de resultados da mentoria. Isso muda a cabeça da pessoa. Ela se torna artista e protagonista. Ajudo na transformação da pessoa compradora de guitarra e consumidora de música a ser guitarrista. Tem cantores e bateristas também que me procuram. Agora, não há erro. É achar os caminhos. O erro comum é achar que não pode ser compositor. Que isso é para pessoas especiais. Não posso chamar de erro, mas seria isso. Achar que não tem nada a dizer para o mundo e que não é capaz. Que tem que nascer especial e já tem muito músico bom por aí e você não pode ter sua própria música lançada. Vejo que eles podem fazer trabalhos fantásticos. Vejo empresários, dentistas e advogados com sucesso. Já passou de tudo! [risos] Tem a galera mais nova, como a Melissa, de 16 anos e o Henry, de Seattle, com 12. O Dani, de São Paulo, começou bem cedo também.

Você tocou em dois álbuns com o Megadeth. Como você avalia seu trabalho em "Dystopia" e "The Sick... The Dying... and the Dead!"? Quais riffs, solos ou músicas desses álbuns você destacaria?

Quem avalia o trabalho são os fãs, mas o ‘Dystopia’ ganhou Grammy. Foi uma avaliação da indústria. Ele conseguiu posições boas na Billboard e outras paradas. Foi algo do nível do ‘Countdown To Exctinction’. Tivemos shows cheios e muito respeito pelo o que mostrei e gravei. Isso que mostra bem o resultado. A avaliação dos fãs. Pensando em riffs para destacar, são vários. Do ‘The Sick...’ tem mais coisas que fiz. A ‘Killing Time’ estou tocando e cantando nos shows. Gosto bastante, eu que fiz. O Dave Mustaine fez a letra e melodia vocal. Eu fiz todos os riffs. Tenho oito composições. Tenho carinho especial pelas partes que contribuí.

Você se apresentou com Bruno Sutter no Rio de Janeiro. Houve uma época em que você criticou o Massacration. Depois de todo esse tempo, qual é sua opinião atual sobre a banda e o estilo de música cômica que eles fazem?

Sobre essa minha crítica ao Massacration lá atrás... Eu adoro o Massacration. A galera não entendeu muito e foi outra época, né? Aquilo foi em 2000 acho. Um prêmio de uma publicação em que ganhei como Melhor Álbum. Eles tinham ganhado como Melhor Banda. Eu fui lá receber o prêmio e apresentei eles. Falei que com tanta banda boa, ganhou uma de comédia. É que naquela época, eu nem sabia que o Bruno Sutter podia cantar. Não sabia se os caras tocavam mesmo. Nem sei, para falar a verdade, se sabiam tocar ou não. Para mim, era uma coisa de comédia. O Bruno canta para caramba, mas não sabia na época. Eu achava que era tipo o Casseta & Planeta. Eles eram do Hermes & Renato. Fazem covers e paródias de samba e metal. Tinha outras coisas. Para mim era uma banda de paródia que tinha ganhado o prêmio das bandas. Acho que hoje em dia se ganhasse ‘Melhor Banda de Rock’ uma do Porta dos Fundos, eu diria: ‘Claro que eles vã ganhar. Tem credibilidade porque todos gostam e são engraçados’. Mas não sei se votaria numa banda do Porta dos Fundos como a melhor do estilo, entendeu? Esse é meu pensamento sobre isso. Mas não tenho nada contra os caras.

Você ganhou fama no Angra, uma banda essencialmente de power metal. Como é sua relação com esse estilo musical hoje? Quais bandas e álbuns de power metal mais te influenciaram?

Quando cresci ouvindo metal, não tinha esse termo ‘power metal’. Isso veio depois. Durante, talvez. Não ouvia Blind Guardian e Helloween. Minha relação era mais com o Queensrÿche e Yngwie Malmsteen. Tinha um pouco de power metal, né? Gostava de Judas Priest, Racer-X e um pouco de Helloween. Iron Maiden para caramba. Esse power nasce daí. Um pouco de King Diamond e Black Sabbath.O Gamma Ray conheci e fui saber quem era o Kai Hansen gravando o ‘Angels Cry’. Conheci o Gamma e achei legal, tem uma coisa de memória da época. Os vocais agudos para mim é King Diamond, Slayer e Pantera. Era uma coisa dos anos 1980. Esse que veio depois, eu já estava a dez anos na minha carreira. Não tenho muita ligação com o Rhapsody. O Angra já estava fazendo isso. Não tem a mesma ligação. Stratovarius conheci como colegas de trabalho. Fizemos turnê juntos. O ‘Destiny’, do Stratovarius, acho legal para caramba. Mas não por ser fã do estilo apenas e sim porque fizemos turnê juntos e isso me traz memórias daquela turnê. O Angra tem algo especial, porque foi minha formação, como me coloquei na música.


26 Jun 2024

Entrevista com Kiko Loureiro (ex-Angra, ex-Megadeth)

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